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Por que o público fica tão fascinado por vilãs como Odete Roitman?

As vilãs de “Vale Tudo”, Odete Roitman e Fátima Acioli, seguem entre as mais comentadas do país. Especialistas explicam o impacto elas despertam.

Na Mira, com informações do g1 pop e arte

Atualizada em 15/10/2025 às 14h09
Odete Roitman interpretada pela atriz Debora Bloch. (Foto: Reprodução)

BRASIL - Mais de três décadas depois da primeira exibição, “Vale Tudo” voltou a movimentar o público com o mistério da morte de Odete Roitman. Em 1988, o assassinato da vilã paralisou o Brasil. Em 2025, o remake da novela reacendeu o debate sobre a personagem que se tornou um símbolo da teledramaturgia nacional.

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Odete é descrita como a vilã das vilãs: despreza a filha doente, humilha os mais pobres e tem um desprezo explícito por tudo que considera “brasileiro”. Mesmo assim, é tratada como uma verdadeira celebridade.

Outra personagem que continua a despertar emoções intensas é Maria de Fátima, interpretada por Bella Campos na nova versão. Ambiciosa, ela faz de tudo para subir na vida: vende a casa da mãe, mente, manipula e seduz por interesse. O público, no entanto, demonstra afeição, os “Fatymores”, como se autodenominam, formam uma legião de fãs que enche as redes sociais com homenagens à personagem.

O legado de Odete Roitman

De acordo com o especialista em teledramaturgia Nilson Xavier, a primeira versão de “Vale Tudo” redefiniu o conceito de vilania na TV brasileira. “Antes de Odete, as vilãs eram apenas temidas. Depois dela, passaram a ser fascinantes”, explicou em entrevista ao g1.

A influência de Odete se espalhou pelas décadas seguintes, inspirando personagens como Altiva em A Indomada, Branca em Por Amor, Flora, Nazaré, Carminha e tantas outras. A partir delas, o público passou a esperar vilãs carismáticas, cheias de humor e frases marcantes.

Nilson também lembra que o humor é um ingrediente essencial nesse tipo de personagem. “Carminha era engraçada. O Marco Aurélio, de Vale Tudo, também é cômico, mesmo quando humilha os outros. Esse contraste cria empatia.”

Outros exemplos, como Félix (Mateus Solano) em Amor à Vida, mostram que o público pode se apegar até mesmo aos personagens mais controversos, justamente pela mistura entre maldade e humanidade. E como falar de Avenida Brasil sem lembrar da espirituosa (e criminosa) Carminha? 

Fátima: vilã, vítima ou apenas ambiciosa?

A atriz Bella Campos contou ao site Omelete que não vê Maria de Fátima como uma vilã, mas como uma jovem influenciada pela era digital, que busca ascensão e reconhecimento. “É por isso que tanta gente se identifica com ela”, disse.

Na versão original, Glória Pires também já havia afirmado que sua personagem era “amoral”, mas não necessariamente má. “Ela queria subir na vida custasse o que custasse, mas tinha dor e consciência”, contou em entrevista ao Memória Globo.

Nilson Xavier reforça que Fátima é antagonista, não vilã. “A premissa de Vale Tudo é moral: vale a pena ser honesto no Brasil? O conflito entre mãe e filha traduz essa dúvida”, analisa.

O pesquisador Mauro Alencar, autor de A Hollywood Brasileira – Panorama da Telenovela no Brasil, acrescenta que a Fátima atual reflete a nova geração de jovens brasileiros, ambiciosos, mas emocionalmente fragmentados. “Ela é uma vítima de um mundo que valoriza o glamour acima de tudo.”

O fascínio pela vilania

O encanto que personagens como Odete e Fátima despertam não se limita às novelas. Segundo Mauro Alencar, a vilania é uma catarse psicológica. “Os vilões sempre fascinaram. É assim desde os contos dos Irmãos Grimm até as animações da Disney.”

Esses personagens, mesmo cometendo atrocidades, permitem ao público experimentar emoções reprimidas, projetar desejos e viver, de forma segura, o que seria inaceitável na vida real.

Não se trata de defender suas atitudes, mas de reconhecer que elas revelam aspectos profundos da sociedade e do comportamento humano. Em Vale Tudo, tanto Odete quanto Fátima representam conflitos morais e sociais que continuam atuais: poder, desigualdade, ambição e ética.

Décadas depois, o mistério de quem matou Odete Roitman segue intrigando o público, mas talvez o verdadeiro segredo esteja no motivo pelo qual ainda nos encantamos por vilãs tão inesquecíveis.

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