BRASIL - João Gomes vive um dos momentos mais marcantes de sua carreira e, talvez, de sua vida. Aos 23 anos, o cantor pernambucano foi eleito Homem do Ano na Música no prêmio Men of The Year, da GQ Brasil, e aproveitou a homenagem para abrir o coração sobre saúde mental, futuro, amadurecimento e criatividade.
O artista contou que precisou passar por uma espécie de “reeducação para colocar a cabeça no lugar” no último ano. O processo envolveu terapia e o uso de medicamentos psiquiátricos. Sem rodeios, ele sabe que falar disso ainda incomoda muita gente, exatamente por isso não quis esconder. “As pessoas deixam de buscar ajuda por preconceito”, disse. Hoje, garante que se sente “muito mais feliz, confiante e em paz”, finalmente capaz de curtir suas conquistas sem culpa ou exaustão.
E ele conquistou muito: shows lotados, 9,4 milhões de ouvintes mensais, clipes milionários em visualizações, hits que viralizam e até um Grammy Latino, um feito que ele vive com objetivo, mas também com a mesma humildade de sempre.
Das ruas de Las Vegas ao palco do Grammy: um ano de grandes passos
Durante as entrevistas, João aparece leve, rindo, caminhando pela rua de chinelos e camiseta, feliz por poder desfrutar do anonimato em Las Vegas antes do Grammy Latino. “Aqui só tem tigrinho, banca de apostas...”, brincou, achando graça da cidade enquanto cantava trechos de Luiz Gonzaga, símbolo eterno de suas raízes.
Nos Estados Unidos, ele se apresentou na 26ª edição do Grammy Latino e levou para casa o prêmio de Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa com Dominguinho, parceria com Jota.Pê e Mestrinho. O projeto, gravado entre amigos, cresceu de forma orgânica até virar um marco de 2025. “Nem todo mundo vai escutar, mas quem ouvir vai gostar”, costuma repetir, rindo e acertando.
A vitória abriu caminhos: em 2026, o trio embarca em uma turnê pela França, Alemanha, Espanha e outros países. Para João, é mais do que música; é representatividade. Ele sabe que o forró e o piseiro ainda enfrentam preconceitos. Relembra, por exemplo, quando ouviu alguém debochar de sua equipe por ser nordestina ao pedir água em um ensaio quente. “Pensei: ‘Caramba, velho, foi isso mesmo?’. A gente precisa ocupar os espaços, como Gonzagão fez. Mas sempre vão nos menosprezar por ignorância”, afirmou.
Por isso, promete seguir cantando o que acredita e cantando de onde veio.
Criatividade, cura e poesia: os planos para 2026
João Gomes também está imerso em um novo momento criativo. Ele comprou um escritório no Recife, onde pretende desenvolver projetos com o coletivo Delírio, responsável por Dominguinho. É lá que ele guarda seu troféu do Grammy e onde nasce grande parte de suas ideias.
O cantor revelou que a escrita sempre foi seu porto seguro. “Escrever é uma coisa que pode acontecer quando nada mais pode”, explicou. Ele diz que muitos dos sentimentos que coloca no papel são profundos, reprimidos, quase secretos. “A escrita explode de mim. É minha amiga mais pessoal”, define.
João Gomes planeja lançar um livro de textos autorais em março de 2026.
A música “Meu Filho Jorge”, lançada em novembro, também nasceu desse processo. Pensando no primogênito, hoje com quase dois anos, ele escreveu versos sobre futuro, medo e amor puro. “Eu ficava pensando: ‘Meu Deus, o que posso ensinar para ele?’”, contou. O nascimento do segundo filho, Joaquim, em setembro, intensificou esse olhar para o amanhã.
Mesmo com tudo acontecendo tão rápido, a fama, os prêmios, as viagens, as responsabilidades, João está, pela primeira vez, conseguindo respirar. Ele lembra como a ansiedade já tirou seu sono, mas admite que o trabalho interno mudou tudo. “Consegui ter outro sentimento neste final de ano. Ano passado eu estava muito mais preocupado, aflito”, diz.
Agora, ele se vê pronto para viver sua melhor versão: mais criativa, mais madura, mais inteira. “Estou em uma vibe muito positiva sobre o meu futuro. Sinto que tem um bocado de coração conectado ao meu”, resume, com o sorriso sereno de quem voltou a acreditar em si mesmo.
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