BRASIL - Um joão-de-barro conhecido apenas por “Jão” vê a lama se aproximar da Barragem do Fundão, em Mariana (MG), sem nada poder fazer para ajudar. A situação, em seguida, se repete em outra cidade mineira. Dessa vez, o cenário é Brumadinho e o Córrego do Feijão.
O pássaro é o personagem principal do livro O João-de-barro e o mar de lama, da jornalista e escritora Grazi Reis, que traz, na sua segunda edição, um trecho com o último desastre ambiental brasileiro e que foi apresentado nesse fim de semana na 17ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
A autora diz que, no dia da tragédia em Mariana, 5 de novembro de 2015, trabalhava em um jornal de Belo Horizonte e estava na redação quando chegou a notícia do rompimento da Barragem de Fundão. “Foi grande a movimentação para a cobertura e, desde aquele momento, fiquei muito tocada pela dimensão dos danos causados nas vidas das pessoas e ao meio ambiente.”
Dois anos depois foi trabalhar como assessora de imprensa da Fundação Renova, responsável por implementar e gerir os programas de reparação dos impactadas do rompimento da barragem. “Queria dar as boas notícias de recuperação ambiental e, principalmente, da reconstrução de Bento Rodrigues e entrega das casas e do meio de vida perdidos aos principais atingidos pelo rompimento da barragem. Acompanhei de perto todo o drama destes trabalhos, burocracias, obstáculos e dificuldades. Fui em várias das regiões atingidas pelo mar de lama. Acumulei um conteúdo enorme sobre o tema.”
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O livro, que conta a história de Mariana, foi lançado em novembro e a tragédia de Brumadinho ocorreu em janeiro. A inserção das informações sobre Brumadinho vem para que as crianças consigam entender melhor a dimensão dos dois desastres. “Com o novo trecho, pretendo que as crianças tenham todas as informações em uma só obra. Para que possam entender o que ocorreu, para que tenham as informações e a partir daí sejam crianças conscientes e adultos conscientes”, diz.
A obra O João-de-barro e o mar de lama é voltado para o público infantil, escrito em linguagem adequada, simples e objetiva. Graziela já pensa na inclusão de mais um trecho em outras edições, para dar a notícia da entrega de casas a moradores de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. “Assim que isto ocorrer, vou preparar uma nova edição. A escolha do joão-de-barro para contar esta história foi proposital. Enquanto ele e a família constroem suas casas, os atingidos pela tragédia seguem sem suas casas.”
Os desenhos encontrados no livro são do ilustrador Quinho, que também acompanhou de perto e retratou, em páginas de jornal, as tragédias nas duas cidades mineiras. “O grande objetivo é essa conscientização, para que tragédias assim não se repitam no futuro”, diz a escritora.
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