Audiovisual

Alunos de projeto social no Rio produzem filme sobre fome e desigualdade

Iniciativa de Ponto de Cultura, curta Pátria Amada participa do 18º Festival Visões Periféricas.

Ministério da Cultura

Atualizada em 13/03/2025 às 10h12
O filme, desenvolvido durante a oficina de Audiovisual e Novas Tecnologias, participa da mostra competitiva do 18º Festival Visões Periféricas, que começa nesta quinta-feira (13) na capital do estado.
O filme, desenvolvido durante a oficina de Audiovisual e Novas Tecnologias, participa da mostra competitiva do 18º Festival Visões Periféricas, que começa nesta quinta-feira (13) na capital do estado. (Foto: Divulgação)

BRASIL - O bairro Alto da Boa Vista, no Rio de Janeiro, é famoso por abrigar mansões e o Parque Nacional da Tijuca. Na região também estão situadas comunidades que sofrem com problemas como falta de infraestrutura básica e de políticas públicas. A fome e a desigualdade social a partir desta realidade são temas do curta-metragem Pátria Amada, feito por alunos do Estudos, Câmera e Ação!, projeto social da Asbrinc - Associação Brincar e Crescer & Ponto de Cultura Cine Floresta Nossa. O filme, desenvolvido durante a oficina de Audiovisual e Novas Tecnologias, participa da mostra competitiva do 18º Festival Visões Periféricas, que começa nesta quinta-feira (13) na capital do estado.

A inspiração foi o curta Ilha das Flores, dirigido por Jorge Furtado em 1989. O trabalho tece uma crítica às desigualdades sociais geradas pelo sistema capitalista a partir da história de um tomate, do plantio ao descarte, para depois, em um lixão, ser recusado por porcos e recolhido por seres humanos. “Durante a sessão, eles [alunos] mal conseguiam se manter sentados, para fazerem comentários do tipo: ‘que absurdo que esse filme antigo ainda parece falar sobre os dias de hoje!’, ‘Como que até hoje ainda tem gente passando fome?’. As discussões após a exibição trouxeram à tona importantes reflexões”, lembra a educadora e coordenadora do projeto que deu origem ao filme, Paula Marques.

O projeto Estudos, Câmera e Ação! integra educação, arte e cultura. Oferece atividades de reforço escolar, oficinas de fotografia, cinema, audiovisual e novas tecnologias, aulas de campos e passeios culturais, gratuitamente, para adolescentes e jovens do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, moradores das comunidades do Alto da Boa Vista (Mata Machado, Tijuaçu, Tijuquinha, Morro do Açude e Vale Encantado), no Rio.

A oficina de Audiovisual e Novas Tecnologias visa explorar os dois temas como ferramentas de expressão e reflexão para que os jovens se apropriem da cultura digital e da linguagem cinematográfica, tornando-se protagonistas das suas narrativas. A partir da exibição de filmes com temas que se conectam com a realidade deles, são feitos debates e criadas soluções audiovisuais que contribuem com a conscientização e o enfrentamento de questões sociais.

“O ensino das práticas audiovisuais proporciona, além do conhecimento técnico, uma série de ações positivas na vida dos jovens, como a expansão de seu universo sociocultural, o fortalecimento da autonomia, identidade, memória social, coletividade e formação de consciência crítica e cidadã, abrindo caminhos para novos pensamentos e possibilidades através da arte e da cultura e reafirmando o poder transformador da educação”, frisa Paula.

Aluno da oficina e diretor do curta juntamente com Paula, João Gabriel Prado, de 16 anos, ressalta o efeito que a produção poderá causar em sua comunidade. “O filme busca conscientizar as pessoas a não desperdiçarem comida, quando muitas não têm o que comer”, observa.

“O fundamento do Ponto de Cultura Cine Floresta Nossa é essa conexão entre arte, cultura e educação. O audiovisual é fundamental para que esses jovens se vejam como protagonistas da sua própria vida, fortalecimento e produção da sua própria subjetividade, da sua individualidade, das suas escolhas pessoais e profissionais e na construção do mundo que eles desejam através do olhar crítico que eles conseguem produzir por meio da realização audiovisual”, destaca o presidente da Asbrinc, Daniel Paes.

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Gravações

A preparação para as gravações incluiu uma série de etapas. “Nós estudamos os temas e tivemos aulas de roteiro e para gravar a narração”, conta Luiz Augusto Soares dos Santos, de 15 anos, que atuou em Pátria Amada.

“Até os alunos mais tímidos se ofereceram para atuar. Na cenografia, eles usaram um saco de lixo real em uma cena. Na intenção de causar impacto e incômodo no espectador, a sequência mostra pessoas em situação de rua vasculhando lixos domésticos em busca de comida. Os atores se doaram tanto que afundaram as mãos nos restos de comida da cozinha, e logo depois saíram correndo aos risos, porém realizados”, recorda Paula.

Ponto de Cultura

O filme foi feito na sede da Asbrinc, que sedia o Ponto de Cultura Cine Floresta Nossa, reconhecido pelo Ministério da Cultura (MinC). O presidente da associação destaca a relevância da conquista. “É importante para a gente ter a certificação do MinC. Mas ele é a ponta de um trabalho. Precisamos de mais incentivo, editais, apoio. A Rede Cultura Viva precisa sempre se fortalecer, crescer e ser reconhecida”, afirma Daniel.

“A Cultura Viva é uma política que há 20 anos certifica, reconhece e valoriza entidades, grupos e coletivos comunitários como Pontos de Cultura. Pode ser considerada uma das portas mais democráticas de acesso ao fomento cultural para esses fazedores de cultura que atuam em suas comunidades, desenvolvendo atividades das mais variadas linguagens e expressões artísticas. Hoje, temos uma rede com mais de 7.200 pontos certificados”, explica a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, Márcia Rollemberg. “Em 2023, iniciamos um processo de retomada da Cultura Viva, com o lançamento dos editais do Ministério e a criação de um piso de investimento a partir da vinculação de recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura. A nossa meta é transformar a Cultura Viva no tamanho do Brasil”, completa.

A coordenadora do projeto e da oficina enfatiza o impacto do audiovisual na vida desses jovens após a conclusão do curta, com exibição no dia 17 no Festival Visões Periféricas, promovido em formato híbrido no Rio. “É nítido o encantamento deles quando percebem o cinema e o audiovisual como uma linguagem alcançável, quando se veem capazes de criar filmes e soluções audiovisuais apenas com o celular. Eles se engajam com dedicação em todas as etapas de produção, entendendo a importância dessa arte não só como entretenimento, mas também como um instrumento capaz de dar-lhes voz e protagonismo no enfrentamento de questões sociais que atravessam suas realidades. Agora, prestes a participarem do festival, a alegria tomou conta. Para eles foi mais uma confirmação de que é possível, com dedicação e trabalho coletivo, realizar sonhos que até então eram uma realidade distante”, conclui Paula.

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