José Lorêdo Filho

Salgado Maranhão, poeta e acadêmico

Foi marcada para o dia 17 de outubro a posse do poeta Salgado Maranhão na Academia Maranhense de Letras — evento tão representativo para nós todos.

José Lorêdo Filho

Foi marcada para o dia 17 de outubro a posse do poeta Salgado Maranhão na Academia Maranhense de Letras — evento tão representativo para nós todos.

José Salgado Santos teve trajetória algo acidentada — mas não para nós, maranhenses. Somos vocacionados para o exílio. Nascido em Caxias em 1953, cedo rumou para Teresina, onde haveria de conhecer o também poeta e compositor Torquato Neto, do qual recebeu o nome como escritor público de “Salgado Maranhão”. Assim como um certo Jerônimo de Albuquerque, quase 400 anos antes.

Em Teresina, no entanto, pouco se demora. Logo parte para o Rio de Janeiro, onde desenvolve intensa vida literária, seja como poeta, prioritariamente, seja, ainda, como letrista e compositor. Algumas de suas composições foram gravadas por grandes artistas da MPB, como Amelinha, Elba Ramalho, Paulinho da Viola, Vital Farias, entre outros. No Rio, não chega a concluir o curso em Jornalismo, na PUC.

Teve o juízo de não se encastelar no ambiente universitário, sob pena de perder o estro poético, sua viola de bolso, sua rabeca de trovador dos sertões. É, antes de tudo, poeta. E assim se conserva. Até pela sua independência intelectual, que não se presta a patrulhamentos de qualquer tipo, tem sua obra publicada e reconhecida e, não raramente, passa a ministrar conferências em diversas universidades, daqui e do exterior. É poeta que se fez com versos, não com títulos e condecorações.

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É poeta de estilo, diríamos quase, oloroso. Assim Manuel Bandeira, poeta-cantor da brasilidade, qualificou o Casa-grande & senzala, do mestre Gilberto Freyre. Não por acaso, o nosso Salgado Maranhão — filho de um próspero comerciante com uma descendente de escravos — se define como uma mistura de “casa-grande com senzala”. Brasileiro de corpo inteiro.

O Maranhão foi, ao tempo da colônia, um Estado à parte do restante do Brasil. Fomos, sempre, mais ligados à Metrópole que aos nossos irmãos de continente. Mesmo com o 7 de Setembro e a Independência de 1824, permanecemos mais próximos de Lisboa que da Corte. Temos a vocação insular para o exílio. Salgado Maranhão esteve exilado praticamente a vida inteira. A madureza, passou-a toda fora do torrão natal. É um exilado, um estrangeiro em terras alheias. Maranhense de corpo inteiro.

Mas, antes de tudo, é poeta. Um artesão do verso, como se diz. Seus versos, ora caudalosos, ora mais contidos, parecem vir da viola de um João Cabral de Melo Neto enamorado da musicalidade das palavras, não tão ligado mais ao aspecto visual da poesia. Estilo oloroso. Estilo do som. O seu Mural de ventos (Rio de Janeiro: José Olympio, 1998) é um amplo painel dessa sua poesia do som ou, antes, dos “ventos”. Poeta de corpo inteiro.

Peregrino exilado da Província, Salgado Maranhão tem a data de seu regresso marcada para o próximo dia 17 de outubro, quando tomará posse na cadeira n. 7 da Academia Maranhense de Letras, patroneada por Gentil Homem de Almeida Braga, também ele poeta, e antes ocupada pelo jornalista Antônio Carlos Lima. Como Raimundo Corrêa, o mago do soneto, e Coelho Neto, o frondoso estilista, Salgado Maranhão regressará, enfim, à nossa Ítaca, tornada sua. Poeta e acadêmico.

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