
Nós de Violência
Acompanhei, nos últimos dias, com tristeza e indignação, os desdobramentos sobre a morte violenta de uma adolescente em uma cidade do litoral ocidental maranhense.
Acompanhei, nos últimos dias, com tristeza e indignação, os desdobramentos sobre a morte violenta de uma adolescente em uma cidade do litoral ocidental maranhense. Um caso entre centenas que se acumulam nos noticiários cotidianos, mas único na dimensão da dor de seus familiares e na cruel interrupção de uma vida em seu despertar. O feminicídio, longe de ser um ato isolado, é o resultado de um itinerário de "pequenas" violências e violações que, ao se acomodarem às convenções sociais e inseguranças, acabam por projetar e abrigar a cena final.
A escalada desenfreada dos índices de violência, sob todos os aspectos, escancara uma realidade que envergonha e, ao mesmo tempo, desafia os padrões de civilidade, convivência e a tão proclamada evolução social. Essa problemática se agrava severamente quando se trata das múltiplas formas de violência contra a mulher.
Se considerarmos a violência em sua acepção mais ampla — abrangendo não apenas agressões físicas, mas também violências psicológicas, emocionais, patrimoniais e simbólicas, a que tantas mulheres são submetidas —, não estaremos lidando apenas com estatísticas frias, mas com um verdadeiro quadro de horror. Esse cenário revela a banalização, a insensatez e a covardia com as quais a sociedade aprendeu a conviver e, em muitos casos, a legitimar.
Não pretendo recorrer a gráficos nem tampouco analisar em detalhes os diferentes tipos de violência dissecados por dispositivos legais, análises acadêmicas ou conceitos sociológicos. O que, de fato, ainda precisa ser dito sobre esse tema? Quais perguntas seguem sem resposta? Será necessário recorrer à essência da iniquidade humana — um mistério que acompanha a existência desde os primórdios? Ou devemos nos voltar para o princípio da liberdade plena, para a sacralidade da vida como dom inestimável, para um voo que não se esgota em regras ou amarras, que não se prende "nem mesmo em gaiolas de ouro", como canta o poeta Bulcão?
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Mais do que diagnosticar, é preciso afirmar com veemência: a violência é um mal a ser extirpado de nosso meio. Desde a infância, deve-se ensinar, repetir e pedagogicamente trabalhar a ideia de que a violência não pode e não deve coexistir nas relações humanas, tampouco nas relações com o ambiente. Sob nenhuma justificativa a violência pode ser aceita contra qualquer ser humano — e, quando direcionada às mulheres, torna-se ainda mais abominável, pois carrega em si a herança de violências históricas acumuladas. Não se trata apenas de um crime contra uma pessoa ou um gênero, mas de um atentado contra a própria natureza humana.
O percurso histórico da violência contra a mulher segue um roteiro quase sempre determinado pela sobreposição de poder social, seja ele temporário ou permanente, e se desdobra nas anomalias das relações abusivas, muitas vezes invisibilizadas, ignoradas ou naturalizadas. Dessa forma, há uma subjetividade perversa que oculta a origem do problema, mas não seus sintomas.
Deve envergonhar a todos nós essa constatação. Antes da luta legítima por voz, por espaço de representatividade e equidade de direitos, há um nó a ser desfeito nesse emaranhado de dores: o nó da violência. O direito pleno de viver e de fazer escolhas, de tecer para si mesmas o fio condutor de suas próprias histórias.
Volto a Bulcão para iluminar o tema, lançando um olhar de esperança na humanidade e em sua capacidade de regeneração: "Tu podes prender o passarinho, mas o canto dele não". Que esse canto seja o da liberdade, da dignidade e da erradicação definitiva de todas as formas de violência. Que a vida prevaleça, entremeada pelos laços da alegria e da paz.
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