SÃO LUÍS - “Quando conseguimos estar em uma situação privilegiada, não somos vistos com bons olhos. A empatia não acontece, seguimos nos superando e fazendo o nosso melhor para evidenciar que podemos”. A afirmação é da empresária, arquiteta e urbanista maranhense Letície de Jesus Ayres Santos, de 40 anos.
“É essa a visão que eu tenho hoje com relação ao racismo. Ele coexiste, ele é verdadeiro, mas está num nível de velado muito alto. As pessoas não se percebem que estão sendo [racistas] e são”. O empreendedor, cantor e coach maranhense Guilherme Júnior, de 44 anos, também expõe o que pensa e vivencia com relação ao racismo.
Neste Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, o Imirante.com conversa com profissionais negros que relatam sobre o preconceito racial.
Letície se encantou pela Arquitetura ao iniciar um estágio em um escritório de Design de Interiores e Arquitetura, onde “conheci o ramo de atuação de maneira completa e tive a certeza qual curso iria prestar vestibular”, relembra.
“Após 12 anos de formada, adquiri experiência em escritórios de arquitetura, construtoras /incorporadoras, porém há seis anos, resolvi construir meu próprio sonho de ter minha empresa e viver dos meus projetos”, completa. O plano, agora, é tornar a empresa uma referência em Arquitetura Sustentável, no Estado e no Brasil.
Com tantos desafios profissionais, Letícia enfrenta ainda o racismo. Para ela, as pessoas estão mais conscientes, porém ainda longe do ideal.
“Quando trabalhava um uma empresa, a minha avaliação por parte da minha gestara direta era sempre negativa, apesar de ter meu trabalho bem avaliado por todas as outras equipes e outros gestores. Ela sempre buscava me diminuir e implicava com cada atividade desenvolvida. Após ser constrangida na frente de todos na empresa, entendi que era inviável continuar e ia pedir minha demissão, quando soube que ela iria ser transferida para outro Estado. Permaneci na empresa, tive um outro gestor onde o reconhecimento e tratamento foram totalmente diferentes”, conta.
“O negro ainda é visto como ser inferior, historicamente quando era impedido por lei de estudar, de frequentar certos locais, hoje parece que apenas toleram”, acrescenta.
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Essa realidade de discriminação e desrespeito, que trata-se de um crime, também é vivida pelo empreendedor Guilherme Júnior. “A gente como ser humano e como negro enfrenta isso de forma velada todos os dias. Pra mim a diferença é como eu me posiciono diante dessas situações ou diante dessas pessoas que falta um pouco mais de conhecimento ou de entendimento. Todo racista tem uma dificuldade de entendimento. E eu como ser humano, como administrador, como coach, por entender de comportamento humano, eu sei as dificuldades que o outro tem como ser humano, as dificuldades de aceitação até do próximo, isso é muito comum”, relata Guilherme Júnior.
Para ele, o racismo funciona hoje como uma crença “porque as pessoas passaram a perceber que são [racistas] e estão buscando uma forma de disfarçar”.
“O racismo hoje no Brasil virou uma crença. São crenças limitantes, algo que foi embutido no processo da tua vida inteira, que te limita a fazer alguma coisa, ou pensar alguma coisa, de agir em relação a alguma coisa e você não percebe. Você é resultado daquilo que você pensa ou daquilo que você acredita. E durante a vida inteira de algumas pessoas, elas passaram a acreditar ou, simplesmente, começam a viver esse racismo e não percebem”, explica o empreendedor e coach.
Guilherme Júnior também acredita que, atualmente, as pessoas são praticamente forçadas a se posicionar contra o racismo, o que não se permite ainda falar em uma total conscientização. “Acredito que as pessoas estão passando hoje por um processo de aceitação. As coisas que acontecem com relação ao racismo estão tão óbvias hoje no mundo e no mercado que as pessoas precisam se posicionar contra esse tipo de atitude. Conscientes elas não estão. Eu percebo que as coisas estão muito mais sendo empurradas pra que as pessoas percebam que precisam ter um comportamento diferenciado do que uma própria consciência”, destaca.
Apesar disso, para Guilherme Júnior, a nova geração chegou com um pouco mais de tolerância. Pai de duas meninas, de 14 e de 10 anos, ele revela que tenta educá-la de forma que estejam preparadas para lidar com atitudes de pessoas preconceituosas.
“Por elas serem descendentes de negro, por elas serem negras também, eu já preparo-as para que elas percebam que o mundo é um tanto quanto difícil com relação ao racismo, e as pessoas têm dificuldade de entender que independente da sua cor, de sua melanina, de seus quereres, nós podemos muito mais independente disso tudo”, pontua.
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