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José Sarney é ex-presidente da República.
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Democracia Partidária

A democracia partidária é o instrumento necessário para que um partido possa estabelecer seu programa e escolher os nomes que o conduzirão

Imirante

Atualizada em 02/05/2023 às 23h37
Em seu artigo semanal, o ex-presidente José Sarney fala sobre democracia partidária (Matheus Soares)

Também eu já tive problemas com prévias para escolher candidato à Presidência da República. A primeira vez foi em 1984.

A democracia partidária é o instrumento necessário para que um partido possa estabelecer seu programa e escolher os nomes que o conduzirão.

Todos os males dos partidos políticos residem em sua manipulação. Todas as medidas que se têm tentado visam à democratização dos partidos. No Brasil a tendência é, agora, dos partidos com donos. Todos querem ter o seu partido, particular, sem uma salutar militância. Para evitar isso temos que mudar o sistema partidário, acabar com o voto proporcional e praticar uma verdadeira democracia interna, cujas obediência e disciplina não sejam fruto do medo da exclusão ou da discriminação e sim da capacidade e da liderança.

Não quer dizer que no sistema atual não se possa fazer campanhas vitoriosas: os salvacionistas, os populistas que apelam ao povo o mandato para varrer os inimigos abundam na História. Os resultados são trágicos para a Democracia: precisam da exceção ou da ameaça para governar. Isso vale para os casos que atingem a Humanidade, como Hitler e Mussolini, e para os casos regionais, de países que sofrem um processo de implosão, como a Venezuela de Chávez ou as Filipinas de Duterte.

Em 1984 a regra da eleição presidencial era de o Presidente da República ser escolhido por um Colégio Eleitoral. Nesse eleitorado o PDS, que eu presidia, tinha maioria. Era o regime da Emenda Constitucional no 1, isto é, a Constituição de 1969, feita para manter o controle da sucessão presidencial na mão dos militares. Mas os fatos se impunham. A campanha das Diretas Já havia mobilizado o País e, apesar da Emenda Dante de Oliveira não ter alcançado o quórum para alterar a Constituição, o clima era o de restabelecimento da democracia.

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No PDS vários nomes se punham como candidatos: o Vice-Presidente, Aureliano Chaves, o ministro Mário Andreazza, o Senador Marco Maciel e o Deputado Paulo Maluf. Este último fazia uma campanha extravagante, cooptando eleitores com os mais variados instrumentos, inclusive os financeiros. Esta campanha com um universo restrito de eleitores não tinha mais legitimidade. Propus a realização de prévias, aceitas por todos, menos por Maluf. Estávamos trabalhando para realizá-las quando o Presidente Figueiredo as desautorizou. Quer dizer: me desautorizou.

No dia 11 de junho havia reunião da Executiva do Partido. Alguns partidários de Maluf avisaram que me partiriam a cara. Por precaução botei um revólver na cintura. Ninguém tentou me bater. Renunciei à presidência do partido em meio a grande agitação, mas sem violências.

Dali saiu a Aliança Democrática, que viabilizou a candidatura de Tancredo Neves: Aureliano, Marco Maciel, Jorge Bornhausen, Guilherme Palmeira e muitos outros nos juntamos a Ulysses Guimarães, que conduziu o PMDB. Na reunião do Colégio Eleitoral de 15 de janeiro de 1985 fomos eleitos, por 480 a 180 votos, Tancredo e eu, Presidente e Vice-Presidente da República.

Tancredo sempre dizia que com meu gesto começara a vitória.

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