COLUNA
Geraldo Carvalho
Economista, MBA pela USP e mestre em gestão de empresas
Geraldo Cunha

A ineficiência do Hidrogênio

Caro, complexo e ineficiente, por que?

Geraldo Cunha Carvalho Jr

Atualizada em 15/08/2025 às 18h53

Nos últimos anos muito se fala em Hidrogênio como combustível do futuro, substituto do petróleo pelas suas qualidades de abundância, poder calorífico e baixo impacto ambiental, mas a realidade recente nos compele a duvidar disso, vamos aos fatos.

O hidrogênio para ser utilizado passa por várias etapas, consideremos aqui o verde, produzido com energias renováveis, sem geração de carbono. No caso dos carros elétricos, ao invés de produzir e armazenar eletricidade em uma bateria, será preciso gerar eletricidade, convertê-la em hidrogênio, armazená-la em recipientes refrigerados e pressurizados a pressão de 700 bar (Um pneu de carro roda a cerca de 2 bar), transportar e armazenar novamente. Depois, convertê-lo em eletricidade para uso novamente, só aí perde 50% do poder calorífico.

O Centro de Pesquisa de Energia Schatz da Cal Tech Humboldt (Universidade da Califórnia, em Humboldt), um dos três campuses da poderosa universidade detentora de 79 prêmios Nobel, teve pesquisa custeada pelo departamento de Energia (DOE) dos EUA, que pagou milhões por mais de uma década pelo estudo desse combustível. Em 2008, o relatório final, constatou que o transporte baseado em hidrogênio não tinha chance de acompanhar os avanços tecnológicos dos veículos elétricos e das baterias, depois disso nenhuma outra pesquisa foi financiada para hidrogênio e células de combustível. As montadoras, que monitoravam de perto a pesquisa e consultoria, decidiram não considerar o diagnóstico.

O custo dos recursos e da energia necessários para criar os materiais e a infraestrutura necessários para produzir, pressurizar, liquefazer e distribuir o H₂V, somado à baixíssima eficiência de ida e volta do seu ciclo de vida, o transforma em um processo caro, insustentável e perigoso.

O hidrogênio foi promovido pela indústria automotiva tradicional e pelas empresas petrolíferas para perpetuar o uso de derivados de petróleo, já que a forma mais barata de produzi-lo era a partir de hidrocarbonetos. Agora, elas enfrentam a concorrência de veículos elétricos e também do hidrogênio verde e branco. Então, estão migrando para outras formas de propaganda. A ideia tem sido lucrativa enquanto durou, pois lhes rendeu quantias substanciais em subsídios. 

Lembro-me de ler, anos atrás, um artigo de um "especialista" da indústria automobilística que dizia que, enquanto todo mundo está de olho nos veículos elétricos (antes de se tornarem populares), a Toyota estava investindo bilhões em hidrogênio. E, com uma empresa como a Toyota, isso significa que eles sabem algo que as outras montadoras desconhecem, ou seja, que a Toyota está tão acima de todas as outras que ninguém sabe o que está acontecendo. E que a Toyota está 10 anos à frente de todos em tecnologia de hidrogênio. Mas a realidade foi outra, por causa de sua posição superior, eles ficaram tão para trás em tecnologia de veículos elétricos que estão a caminho de serem desbancados como a montadora número 1 do mundo. Se a Toyota soubesse o que estava fazendo, por que suas vendas estão caindo tanto e por que os verdadeiros especialistas em automóveis estão dizendo que as montadoras chinesas... como a BYD, Geely, Nio, etc, vão dominá-las até 2030?

A célula de combustível de hidrogênio produz eletricidade e isso aciona um motor elétrico da mesma forma que um veículo elétrico. Portanto, um tanque de hidrogênio e uma célula de combustível fazem o mesmo trabalho que uma bateria. 95% do Hidrogênio produzido atualmente é um processo que usa gás natural, que libera dióxido de carbono. 16 kg de metano podem ser convertidos em 4 kg de hidrogênio e 44 kg de CO2. Como forma de reduzir as emissões de CO2, isso é um fracasso enorme. Até que alguém descubra como produzir hidrogênio a partir da eletrólise da água em grande escala, economicamente, e como armazená-lo e transportá-lo com segurança, o hidrogênio é uma perda de tempo.

O problema é que muitas pessoas estão resistindo a mudar para um veículo elétrico porque estão esperando pelo hidrogênio, sob a crença equivocada de que este é o caminho a seguir. A indústria de combustíveis fósseis fez um bom trabalho envenenando todos contra os veículos elétricos. E agora Donald Trump diz “Drill baby, drill”, tentando dar sobrevida ao petróleo.

A matemática do hidrogênio funciona mesmo há 10 anos, quando o preço das baterias era de US$ 500 por kW. Hoje, com a megaprodução chinesa vinda de empresas como CATL e BYD, as baterias agora estão abaixo de US$ 100 por kW e caindo, com outras tecnologias aumentando a densidade energética surgindo a cada momento.

Na Califórnia, 4ª. Maior mercado de carros do mundo, haviam 52 postos de carregamento de Hidrogênio veicular, a maioria fechou em 2023, o preço do Kg, apesar disso foi de 12 para 37 dólares nos últimos 3 anos. Logo completar um tanque de um Toyota Mirai (6 kg), custa US$222,00. Enquanto completar um tanque de gasolina de 60 lts de um Corolla (em julho 2025 US$4,75 o galão), custaria US75,00. Enquanto abastecer de eletricidade um Tesla model 3, com bateria de 82 KWh, custaria zero se o dono tiver geração solar até US$16,40 se a pessoa abastecer da rede (Nos EUA o Kwh está custando em julho de 2025, entre 0,20 a 0,30).

Assim numa conta simples, abastecer um carro a hidrogênio custa quase 13 x mais caro, em relação ao elétrico hoje na California.

Até hoje os três modelos de veículos a hidrogênio disponível para venda em não mais que 5 países, são: Toyota Mirai, Hyundai Nexo e Honda CRV. Todos eles somados não venderam mais que 28.000 unidades desde o primeiro lançado em 2014. Enquanto isso provavelmente ainda este ano de 2025, o mundo alcançara 30% do mercado de eletrificados (Elétricos e híbridos). Cerca de 27 milhões de carros. Ou seja, em um único dia vende-se 3 vezes mais elétricos que em 11 anos de carros a hidrogênio.

Não há nenhum modelo de automóvel a hidrogênio no Brasil. Em 2022 a Toyota trouxe algumas unidades para teste jornalístico em sua pista de provas, mas mesmo a White Martins não tinha tecnologia para abastecer os carros a 700 bar de pressão, resultou que os mesmos rodaram com no máximo 10% dos tanques, como pode ser lido num vídeo disponível no Youtube feito pela revista Quatro Rodas.

Em 26.07.2025, o CEO da White Martins, Gilney Bastos, maior fabricante de gases do Brasil, pertencente ao grupo alemão Linde, disse algumas informações importantes sobre a produção de hidrogênio verde em entrevista ao Jornal Valor Econômico:

- Chamou a produção do gás de “aventura”, pois ainda não se sabem os custos já que não há produção comercial ainda, a maioria dos projetos informados foi abandonada, a planta em Jacareí /SP que está em construção pretende produzir 800 toneladas/ano, a demanda projetada na Europa esfriou e os consumidores buscam gás e outras tecnológicas. A expectativa deles é que a planta acima consiga empatar os custos.

Estudo do ICCT (Conselho Internacional de Energia limpa) sobre como os elétricos já venceram por ser mais limpos e o hidrogênio além de ineficiente, polui na sua fase de construção e abastecimento. Um H2V emite 172 g/Km rodado, redução de -25% em relação a gasolina. Quase 100% do hidrogênio hoje vem da reforma do gás, vindo do petróleo. Logo os carros movidos a célula de combustível de hidrogênio, não são tão limpos assim. A matéria foi veiculada pelo canal OLHAR DIGITAL:

Indústria naval e Geração de energia é outra possível usuária do Hidrogênio verde, pois o “Bunker” usado como combustível é altamente poluente. A Convenção Internacional para a prevenção da Poluição por Navios (MAPOL), estabelece carbono zero no setor até 2050. Entretanto a China, que hoje tem 50% da indústria de estaleiros navais está lançando navios movidos a LNG (Gás Natural Liquefeito), abundante e barato. Como os navios que vem aportando no Brasil trazendo carros para a BYD.

Em resumo, era uma bolha e estourou, o Hidrogênio é uma maneira cara e perigosa de transportar energia. Não se espera que haja ganhos de escala em produtividade no hidrogênio como houve na eólica ou solar, esta última os preços das placas caíram quase -90% nos últimos 4 anos. O ente público não tem mais recursos para bancar subsídios ao H2V, como exemplo uma das maiores empresas de energia, BP, Exxon, Fortescue, Woodside, Origin Energy, Thyssenkrupp, etc. vem cancelando seus projetos de H2V nos EUA e Austrália. O fato é que se busca energia abundante e de baixo custo, projetos que de custos elevados e baixa produtividade não terão viabilidade.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2025/08/mercado-de-hidrogenio-verde-afunda-na-australia-um-dos-paises-com-maior-ambicao-no-setor.shtml

Em resumo, as energias renováveis são um caminho eficaz, limpo, eficiente e lucrativo para tirar o carbono da atmosfera, mas o hidrogênio verde ainda não se mostra viável.


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