COLUNA
Geraldo Carvalho
Economista, MBA pela USP e mestre em gestão de empresas
Geraldo Carvalho

O Brasil tem energia sobrando

Estamos perto de uma crise de superoferta de energia.

Geraldo Cunha Carvalho Jr

 

O Brasil está na eminência de uma crise de superoferta de energia, dada a velocidade de crescimento da geração e da lentidão no aumento do consumo, explico:

Pelos dados da ANEEL, a nossa capacidade de geração elétrica em setembro de 2024 é de 237 Gigawatts, sendo 110 GW de geração hidroelétrica, 46,3 GW de termelétricas (Gás, Biomassa, Petróleo e Carvão), 47 GW de geração solar, 31,7 GW de eólicas e 2 GW nuclear. Fonte: https://www.absolar.org.br/mercado/infografico

Entretanto nosso consumo total de energia, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema) não ultrapassa os 96 Gigawatts, oscilando entre 65 GW nos finais de semana a 96 GW de pico nas tardes de semana útil. Fonte: https://www.ons.org.br/paginas/energia-agora/carga-e-geracao

 

Ou seja, estamos com mais do dobro de geração em relação ao consumo. Há vários desafios ao país, apesar dessa folga confortável, o maior é o descasamento entre pico da geração e pico do consumo. A energia solar em 2024 deve crescer perto de 10 GW (quase uma Itaipu), contudo só injeta energia na rede entre 6h e 18h. Entretanto o consumo maior ocorre no meio da tarde e no começo da noite quando as pessoas voltam para casa do trabalho; tendo o pico do consumo entre 18 e 21h (horário de ponta). Nesse momento é necessário aumentar a oferta de energia para atender a rápida subida no consumo, hoje a única solução em despacho rápido são as hidroelétricas.

Esse ano como efeitos do aquecimento global, estamos assistindo falta de chuvas e a necessidade de preservar os reservatórios das hidroelétricas. Como conciliar esse descasamento entre oferta de energia e demanda, que ocorre em momentos do dia diferentes?

A solução mais eficaz que o mundo vem encontrando nos últimos anos é o uso de enormes baterias de Lítio, que são carregadas ao longo do dia pelo excesso de geração solar para ser utilizada no pico do consumo entre 18 e 21h. Na vanguarda dessa tecnologia estão: Califórnia, Texas, Austrália e China. Que constroem gigantescos parques de baterias para reduzir a diferença entre geração x demanda e aproximar as duas curvas.

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A solução de uso de baterias, cujo mercado vem sendo liderado por duas empresas chinesas (BYD e CATL) e uma americana TESLA, ainda não está no radar dos planejadores energéticos brasileiros. Que insistem na contratação de energia suja como carvão e diesel, como forma de evitar problemas na oferta. Ou seja, o Brasil está atrasado e persistindo em tecnologias defasadas e poluentes.

A energia solar se tornou um produto barato, nos últimos dois anos, o preço das placas caíram -80% e sua capacidade de geração subiu 70% em watts.

Voltando ao título desse artigo, estamos contratando uma crise de excesso de oferta de energia, que vai achatar os preços e tornar os novos projetos inviáveis. Com baixa perspectiva no retorno do investimento e do lucro. Ainda falamos muito em energia nova, ainda se criam leis e marcos regulatórios como recentemente com o Hidrogênio Verde, onde se prometem subsídios e isenções, sendo que não precisamos mais de energia nova, mas sim de equilibrar oferta e demanda.

Em resumo, estamos com quase 2,5 vezes a capacidade de geração acima do consumo, e essa taxa aumenta mais 4% ao ano. O país está contratando uma crise que pode acabar em quebradeira e desarranjo no setor. 

Embora tenhamos excesso de geração, temos uma das contas de energia mais caras do mundo, com cerca de 40% de impostos e mais 13% de subsídios incluídos nela. Produzimos energia barata, mas a ineficiência e o custo Brasil os tornam cara, isso bate forte na economia pois o custo da energia é um dos insumos mais importantes no tecido econômico.

Em resumo, se o Brasil não planejar com atenção e não descontaminar o setor da alta carga de impostos e dos subsídios, podemos ter outro momento ruim como da fatídica emissão da MP 579 em 2012. Que quebrou o setor elétrico e de alumínio ao obrigar a queda nos preços e posteriormente sua brusca elevação, acarretando 200 bilhões de reais em prejuízos ao país.



 

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