COLUNA
Ronaldo Rocha
Ronaldo Rocha é jornalista de política do Grupo Mirante.
Análise

A Cultura do Maranhão como moeda de troca e a lavagem de dinheiro

Neste fim de semana repercutiu uma ação da Polícia Federal que resultou na prisão de três pessoas envolvidas em desvios de emendas parlamentares; agremiações culturais foram usadas e deputadas citadas.

Iplítica

Atualizada em 19/10/2025 às 09h01
Presos pela Polícia Federal por desvio de emendas foram sotos pela Justiça neste sábado (Reprodução/Redes Sociais)

SÃO LUÍS - O sistema de emendas parlamentares, instituído para direcionar recursos públicos a setores da administração que são essenciais, e ao mesmo tempo permitir o desenvolvimento social, mostra-se, no Maranhão, como o epicentro de um esquema de lavagem de dinheiro que não somente ataca, como também desmoraliza a cultura local.

Neste fim de semana ganhou forte repercussão a prisão de três pessoas suspeitas de participação no esquema de desvio de recursos oriundos de emendas parlamentares. A Polícia Federal conseguiu interceptar os três na porta de uma agência do Banco do Brasil, no Centro da capital, logo após um saque de R$ 500 mil.

Tratam-se de Maria José de Lima Soares, presidente do Boi de Maracanã e representante da Banzeiro Grande Produções LTDA; Larissa Rezende Santos, assessora da deputada estadual Andreia Rezende (PSB); e Ivan Jorge da Piedade Madeira, presidente da Companhia de Cultura Popular Catarina Mina. 

O dinheiro que seria destinado para a promoção da cultura, acabou em mochilas um tanto quanto modestas, numa prática ousada e criminosa que fere a integridade da coisa pública.

Leia sobre o caso: 

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A investigação da PF aponta que entidades sociais e culturais, como a Companhia de Cultura Popular Catarina Mina e a Associação Recreativa e Beneficente Folclórica e Cultural de Maracanã (Boi de Maracanã), eram utilizadas para movimentar grandes volumes em espécie.

Companhia Catarina Mina tinha outro saque agendado para segunda-feira 

Somente a Companhia Catarina Mina, por exemplo, foi citada em um provisionamento de saque de R$ 500.000,00, interceptado pela PF, e de R$ 300.399,00, que estava agendado para o dia 20 deste mês.

Um dano, contudo, ainda incalculável. 

Os valores, que deveriam financiar projetos cruciais, como um evento alusivo ao Dia das Crianças, São João ou Natal, foram indevidamente repartidos. 

Há indícios, segundo a PF, de que esses eventos culturais, na sua maioria, não eram efetivamente executados.

A natureza espúria das transações é reforçada pela informação de que a Companhia Catarina Mina, detentora de mais de R$ 700.000,00, não possuía sequer capacidade operacional para justificar saques de valores tão expressivos. 

A instituição estava até sem sede para atuar e mesmo assim conseguiu recursos volumosos. Um absurdo.

A PF agora investiga se parte deste dinheiro retornava efetivamente para deputados. Essa possibilidade surgiu a partir da participação de uma assessora parlamentar, que em depoimento afirmou que levaria R$ 400 mil para o gabinete de uma deputada estadual.

A deputada apontada em depoimento, nega.

Finalidade das emendas foi corrompida no Maranhão

Se a cultura está sendo usada como moeda de troca para desvios de recursos públicos, o que falar da instrumentalização na política para uma prática tão nefasta?

O que este caso ainda em fase de apuração evidencia, é que a nobre finalidade das emendas parlamentares, especialmente as destinadas ao fomento da cultura, foi corrompida para alimentar esquemas de enriquecimento ilícito.

É grave.

E tira das pessoas, a esperança por dias melhores.

Quem ainda acredita na política, recebeu um dardo inflamado no peito. Quem aprecia o incentivo à cultura, desmorona de vergonha.

E só quem não se envergonha nesse caso todo, é quem está envolvido nos desvios. 

Que sejam responsabilizados e punidos com o rigor da lei…


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