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Novelas verticais: novo formato desafia o folhetim tradicional

Produções curtas e adaptadas para o celular, as novelas verticais conquistam o público e desafiam roteiristas, diretores e a própria linguagem da TV.

Na Mira, com informações da CNN pop

Novelas verticais: novo formato desafia o folhetim tradicional.
Novelas verticais: novo formato desafia o folhetim tradicional. (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

BRASIL - Para quem passa horas rolando o feed do TikTok ou do Instagram, é quase impossível nunca ter se deparado com um vídeo que parece uma novela, mas sem relação com Globo, Record ou SBT. Esses conteúdos, que misturam dramaturgia, ritmo acelerado e emoção intensa, são os capítulos de um novo formato: novela vertical.

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Diferente das produções tradicionais da TV, esses microdramas são pensados para telas de celular e consumidos em poucos minutos, durante uma pausa no trabalho, no transporte público ou antes de dormir. O formato, que já faz sucesso em países como a China, vem conquistando espaço no Brasil e chamando a atenção até de grandes emissoras.

Um novo olhar sobre roteiro e direção

Segundo o professor e pesquisador Renan Claudino Villalon, a principal mudança das novelas verticais está na estrutura narrativa e na direção de arte. “O formato vertical altera completamente a mise-en-scène do diretor. Com um espaço reduzido, a composição do quadro audiovisual precisa se reinventar. Há perdas para a cenografia, mas ganhos expressivos na caracterização dos atores, figurino e maquiagem”, explica.

Renan também aponta que o roteiro sofre adaptações significativas. Se antes o público acompanhava longas construções de conflito, agora o ritmo é outro: “Os microdramas começam e terminam em clímax. Isso intensifica o apelo emocional, mas também pode gerar narrativas mais caricatas e estereotipadas.”

Com a tela mais próxima do rosto do espectador, os detalhes ganham protagonismo. Expressões faciais, penteados e olhares passam a ser mais relevantes do que o cenário. “O rosto vira o palco. E o público, cada vez mais ansioso, busca por emoções rápidas e fáceis de assimilar”, completa o professor.

Chegada da novela vertical à TV brasileira

O formato ganhou força na China em 2018 e explodiu durante a pandemia, quando o consumo de vídeos curtos cresceu exponencialmente. Agora, o fenômeno chega com tudo ao Brasil. A TV Globo, por exemplo, já aposta em produções voltadas para o consumo em dispositivos móveis. Entre os títulos confirmados estão “Tudo Por Uma Segunda Chance”, com Jade Picon como vilã, e “Cinderela e o Pobre Milionário”, protagonizada por Gustavo Mioto.

De acordo com Villalon, a emissora percebeu o potencial de alcançar novos públicos. “As novelas, sejam televisivas ou verticais, sempre foram um meio de contato com as diferentes classes sociais brasileiras. As tendências, quando se consolidam, são absorvidas e transformadas em convergência midiática”, analisa.

A geração da rolagem infinita

Essas histórias curtas refletem a lógica da geração do imediatismo, acostumada à velocidade das redes e à fragmentação da atenção.

“As tramas não têm profundidade reflexiva, mas uma estética agradável e acessível. São feitas para quem tem pouco tempo livre, mas não quer abrir mão da emoção”, afirma o pesquisador.

As novelas verticais, portanto, não matam o folhetim, apenas o comprimem. Transformam o drama em cápsulas de emoção instantânea, feitas sob medida para o ritmo do presente.

Novela vertical ainda é novela?

A questão que paira é inevitável: uma novela de três minutos ainda é uma novela?
O formato quebra a estrutura clássica do folhetim, o tempo dilatado, o desenvolvimento dos personagens, o prazer do “amanhã tem mais”. Mas, ao mesmo tempo, mantém sua essência: o desejo de acompanhar histórias, se emocionar e se ver refletido nelas.

Talvez o que mude não seja a novela, e sim o relógio do público. No fim, o que está em jogo não é o tempo da história é o tempo que o espectador tem para senti-la.

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