Vilões, mistério e realidade
O que mudou quando os vilões deixaram de ser monstros para virar gente como a gente.
Uma pergunta que marcou a semana foi: “Quem matou Odete Roitman?” A mesma pergunta que parou o Brasil em 1988, quando foi exibida a primeira versão de Vale Tudo, novela escrita por Gilberto Braga, até hoje um dos grandes sucessos da dramaturgia brasileira. E isso é um feito e tanto, considerando que o Brasil é o país que produz as melhores novelas do mundo. Décadas depois, a pergunta continua viva na memória coletiva.
Pois bem, eu não sei quem é o assassino desta nova versão, que percorreu outras narrativas até chegar à noite da morte de Odete no Copacabana Palace. Mas o que me interessa aqui é a transformação dos vilões da primeira para a segunda versão.
Quando o mal ganha nuances
Se a Odete de Beatriz Segall era vilã em sua potência máxima, fria, cruel e sem traços de humanidade, o mesmo podia se dizer de Marco Aurélio, vivido por Reginaldo Faria. Já em 2025, na adaptação de Manuela Dias para o clássico de Braga, os vilões ganharam mais camadas humanas. A nova Odete, interpretada por Débora Bloch, continua sendo uma senhora dos absurdos, mas sua ironia e seu sarcasmo conquistaram o público. Até a “boazinha” Celina, sua irmã, interpretada por Malu Galli, desperta dúvidas sobre a própria bondade.
O Marco Aurélio de Alexandre Nero também surpreende: ele ama verdadeiramente Leila, tem tiradas de humor e carrega uma vilania quase atrapalhada. (Nem vou entrar no mérito do César da versão atual...)
Essa mudança é importante, afinal, ninguém é vilão 24 horas por dia. Todo mundo tem em si um pouco de maldade, e nem sempre somos bons ou maus o tempo todo. É essa mistura que faz a vida interessante.
Eu, particularmente, sou apaixonada pela persona dos vilões. Sempre gostei do jeito como, nas novelas de Manoel Carlos, tanto as Helenas quanto os vilões tinham qualidades e defeitos, o que o consagrou como um grande contador de histórias do cotidiano. Ninguém escreve um barraco tão bem quanto o nosso Maneco.
Se Manuela Dias tropeçou em alguns pontos do roteiro ao revisitar um clássico da dramaturgia, isso ainda divide opiniões. Mas é inegável que a trama conseguiu recuperar algo essencial: o prazer coletivo de debater e se empolgar em torno de uma grande vilã.
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