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Entre câmeras e playlists, vive Bruna Castelo Branco, jornalista cultural e diretora de TV que respira entretenimento. Fala (com paixão e um pouco de drama) sobre filmes, séries e mús
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Vilões, mistério e realidade

O que mudou quando os vilões deixaram de ser monstros para virar gente como a gente.

Bruna Castelo Branco

Atualizada em 10/10/2025 às 10h55
Débora Bloch como Odete Roitman (Foto: Divulgação)
Débora Bloch como Odete Roitman (Foto: Divulgação)

Uma pergunta que marcou a semana foi: “Quem matou Odete Roitman?” A mesma pergunta que parou o Brasil em 1988, quando foi exibida a primeira versão de Vale Tudo, novela escrita por Gilberto Braga, até hoje um dos grandes sucessos da dramaturgia brasileira. E isso é um feito e tanto, considerando que o Brasil é o país que produz as melhores novelas do mundo. Décadas depois, a pergunta continua viva na memória coletiva.

Pois bem, eu não sei quem é o assassino desta nova versão, que percorreu outras narrativas até chegar à noite da morte de Odete no Copacabana Palace. Mas o que me interessa aqui é a transformação dos vilões da primeira para a segunda versão.

Quando o mal ganha nuances

Se a Odete de Beatriz Segall era vilã em sua potência máxima, fria, cruel e sem traços de humanidade, o mesmo podia se dizer de Marco Aurélio, vivido por Reginaldo Faria. Já em 2025, na adaptação de Manuela Dias para o clássico de Braga, os vilões ganharam mais camadas humanas. A nova Odete, interpretada por Débora Bloch, continua sendo uma senhora dos absurdos, mas sua ironia e seu sarcasmo conquistaram o público. Até a “boazinha” Celina, sua irmã, interpretada por Malu Galli, desperta dúvidas sobre a própria bondade.

O Marco Aurélio de Alexandre Nero também surpreende: ele ama verdadeiramente Leila, tem tiradas de humor e carrega uma vilania quase atrapalhada. (Nem vou entrar no mérito do César da versão atual...)

Essa mudança é importante, afinal, ninguém é vilão 24 horas por dia. Todo mundo tem em si um pouco de maldade, e nem sempre somos bons ou maus o tempo todo. É essa mistura que faz a vida interessante.

Eu, particularmente, sou apaixonada pela persona dos vilões. Sempre gostei do jeito como, nas novelas de Manoel Carlos, tanto as Helenas quanto os vilões tinham qualidades e defeitos, o que o consagrou como um grande contador de histórias do cotidiano. Ninguém escreve um barraco tão bem quanto o nosso Maneco.

Se Manuela Dias tropeçou em alguns pontos do roteiro ao revisitar um clássico da dramaturgia, isso ainda divide opiniões. Mas é inegável que a trama conseguiu recuperar algo essencial: o prazer coletivo de debater e se empolgar em torno de uma grande vilã.


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