estética e cultura

Projeto 'Joias do Bairro' destaca força cultural da moda periférica

A primeira edição do Joias do Bairro celebra a moda periférica com autenticidade, narrativas reais e jovens que transformam seus territórios em estética.

Na Mira

Atualizada em 25/11/2025 às 14h10
As Joias do Bairro. (Foto: Izadora Gonçalves)
As Joias do Bairro. (Foto: Izadora Gonçalves)

SÃO LUÍS - A periferia sempre teve estilo, ritmo e códigos próprios, mas nem sempre teve espaço para contar sua própria história com protagonismo. Durante décadas, estéticas nascidas nas quebradas foram apropriadas, descontextualizadas ou diluídas por grandes centros criativos. Agora, com o lançamento de sua primeira edição, o projeto Joias do Bairro nasce justamente para virar essa chave: transformar as visualidades periféricas em narrativa autoral, compreender a moda como gesto político e revelar as pessoas que fazem do vestir um ato de sobrevivência, afirmação e orgulho.

Idealizado pelos criadores Kadezynho, Tharlisson Ribeiro e Leonardo Rodrigues, o projeto reúne jovens da cena urbana maranhense em uma campanha fotográfica e audiovisual que ilumina estéticas reais, identitárias e profundamente conectadas ao território. Nada de fantasia, filtro ou romantização. No Joias do Bairro, a moda acontece onde sempre aconteceu: no bairro, na rua, na calçada, na vivência.

“O Joias do Bairro surgiu quando eu convidei o Léo para criarmos algo que tivesse nossa essência por inteiro. Um projeto com identidade 100% nossa, que traduzisse o que vemos, sentimos e vivemos dentro dos nossos territórios”, conta Kadezynho, um dos idealizadores.

A escolha do nome também é simbólica. Vem diretamente da cultura periférica, mais especificamente da música “Jóias do Bairro”, do rapper Leall, uma referência que ecoa pertencimento e história. “A gente se identifica muito com a mensagem que a música traz”, explica.

Originalidade como ponto de partida

(Foto: Izadora Gonçalves)
(Foto: Izadora Gonçalves)

O trio criativo afirma que a força do Joias do Bairro está no fato de ser um projeto “de dentro pra dentro”, feito por pessoas que respiram e traduzem a estética periférica a partir de suas próprias lentes.

“A originalidade vem disso: ele é nosso, no sentido mais genuíno da palavra. Não tentamos encaixar a periferia em um conceito pronto; deixamos que ela própria dite o ritmo, a linguagem e a beleza.”

Essa filosofia guia todas as etapas do projeto, das escolhas de elenco e figurino até as locações e a linguagem visual. A equipe rejeita estéticas higienizadas e construções publicitárias. No lugar disso, privilegia o real, o cotidiano, os detalhes que só quem vive conhece.

“Queríamos que tudo refletisse verdade, não só beleza”, afirma o trio. Para eles, mostrar a vida real é mais potente do que qualquer tentativa de imitar uma ficção de “moda urbana”.

A estética que nasce da vivência

A campanha aposta em luz natural, texturas do bairro, objetos cotidianos, expressões espontâneas e cenários que fazem parte do dia a dia dos participantes. Nada é deslocado, tudo dialoga com o território.

“Quando falamos em estética identitária, é sobre não apagar a força das pessoas e dos lugares. Não é criar fantasia: é mostrar quem somos e de onde viemos.”

Esse cuidado se estende ao styling, que funciona quase como um trabalho antropológico. Para Kadezynho, o processo começa com escuta ativa: “O stylist precisa estudar quem está vestindo, entender a história da pessoa e saber contar essa narrativa”.

As roupas, portanto, não são apenas roupas, são códigos culturais, memória, afirmação e comunicação. “Dizem tudo: do consumo consciente às peças marcantes que mostram exatamente quem você é naquele território onde você se reconhece como protagonista”, completa.

Periferia como tendência

Os criadores reconhecem que, hoje, a moda periférica ocupa vitrines, editoriais e coleções de marcas gigantes. Mas enfatizam que essa influência sempre existiu, só não era reconhecida.

“A moda periférica tem sido referência pra todas as esferas. Me arrisco a dizer que sempre foi. Pra gente, já era ref.”, diz Kadezynho.

Com o Joias do Bairro, essa estética deixa de ser tratada como tendência passageira e passa a ser validada como identidade contínua e estrutural.

“O projeto mostra que não devemos abandonar este lugar que é nosso.”

Um farol para novos talentos

Mais do que uma campanha, o Joias do Bairro quer se tornar um movimento: um ambiente de coragem, comunidade e oportunidade para jovens criativos que buscam visibilidade e respeito dentro da moda e das artes.

“A gente quer criar uma comunidade de coragem para jovens que sonham com um lugar de respeito e oportunidades. O farol está totalmente voltado para as joias que serão finalmente vistas como merecem.”

A edição 001 reúne talentos como Akil Durans Dias, Dellavega, VT, Felps, KL e o próprio Kadezynho, em um trabalho coletivo que envolve fotografia de Izadora Gonçalves, vídeo de Victor Duarte, design de Leonardo Godoi e produção executiva de Léo, Tharlisson e Kadezynho. Para acompanhar o projeto clique aqui.

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