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COLUNA
Euges Lima
Euges Lima é historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM.
Euges Lima

O (BI) CENTENÁRIO DE D. PEDRO II E O IHGM: o memorável 2 de dezembro de 1925 em São Luís

Ao longo do dia, a capital maranhense se encheu de atos cívicos, eventos religiosos, desfiles escolares, solenidades e homenagens.

Euges Lima

Há cem anos, em 2 de dezembro de 1925, São Luís viveu um dos dias mais marcantes de sua história cívica e cultural. A Câmara de Vereadores decretou feriado municipal e a cidade foi tomada por uma intensa programação comemorativa em homenagem ao centenário de nascimento do imperador D. Pedro II, nascido em 2 de dezembro de 1825.

Desde as seis da manhã, uma salva de foguetes nas Praças Deodoro e João Lisboa anunciava que aquele não seria um dia comum. Ao longo do dia, a capital maranhense se encheu de atos cívicos, eventos religiosos, desfiles escolares, solenidades e homenagens. “As bandas de musicas do 25 Batalhão de Caçadores e do Corpo Militar do Estado, [...] tocaram desde as 6,40 em frente do Paço Archiepiscopal.” (CENTENÁRIO de Pedro II, 1925). 

Um dos pontos altos foi a (re) inauguração da principal Avenida de São Luís à época, até então chamada Avenida Maranhense, que passou a denominar-se Avenida Pedro II, em tributo ao imperador. “A decoração da futura Avenida Pedro II e do altar da missa campal [estava] a cargo do armador Martins, que fará gratuitamente os respectivos trabalhos, tomando dessa sorte parte activa nas homenagens de 2 de dezembro. ” (CENTENÁRIO de Pedro II, 1925). Foram decorados também para as festividades outros prédios e logradouros da cidade, envolvidos nas comemorações, como o “Theatro Arthur Azevedo [...]” e o “Parque Urbano Santos (antigo Campo de Ourique), em redor da Pedra da Memória” (O Instituto Histórico, 1925). 

Coube ao padre e intelectual Monsenhor Arias Cruz (membro do seleto grupo de fundadores do Instituto) um dos principais discursos da cerimônia de mudança de nome dessa importante via pública.

Entre as comemorações mais significativas daquele 2 de dezembro, destacou-se a realização, no Salão da Câmara Municipal, da primeira sessão cívica e da sessão de instalação do Instituto de História e Geografia do Maranhão, que pouco depois passaria a chamar-se Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, denominação que conserva até hoje. A sessão foi concorridíssima: estiveram presentes as principais autoridades, intelectuais, políticos, estudantes e populares, num ambiente de entusiasmo patriótico e fervor cívico.

O IHGM nasceu, portanto, no bojo dessas comemorações do Centenário de Pedro II, com o objetivo deliberado de integrar-se a elas. Por isso, o dia 2 de dezembro é uma das datas mais simbólicas e caras à memória do Instituto Histórico, a “Casa de Antônio Lopes”, seu idealizador e secretário perpétuo. Mais do que a fundação de uma entidade, tratou-se da afirmação de um projeto intelectual e afetivo de preservação da história e da memória do Maranhão.

O jornal O Combate, na edição de 1º de dezembro de 1925, registrava com destaque a expectativa em torno da solenidade de instalação do Instituto na Câmara Municipal de São Luís: “A primeira sessão cívica do Instituto de História e Geographia do Maranhão, comemorativa da sua instalação e dedicada também à data que recorda o nascimento de D. Pedro II, terá lugar amanhã, às 10 horas, com máxima solenidade na sala de sessões da Câmara Municipal. Comparecerão à solenidade todas as autoridades federaes, estaduaes e municipaes. À porta da Câmara tocarão as bandas musicaes. O ingresso será permitido às famílias e cavalheiros, estudantes, auxiliares do comércio. O corpo comercial e cônsules foram convidados por intermédio da prestigiosa Associação Comercial. Serão expostos retratos de D. Pedro II, D. João VI e D. Pedro I, sendo o de D. Pedro II devido ao pincel do distinto pintor snr. Paula Barros.”

As atividades pelo Centenário do Imperador em São Luís ocuparam todo o dia 2 de dezembro: pela manhã, uma sessão no Cinema Olympia; à tarde, às 16 horas, desfiles escolares na Praça João Lisboa, precedidos por bandas de música e préstito cívico; à noite, a partir das 20 horas, a programação se encerrou com uma grande sessão cívica no Teatro Arthur Azevedo. A cidade viveu um verdadeiro dia de festa nacional em versão ludovicense.

A razão principal de toda essa mobilização era celebrar o Centenário de D. Pedro II, cuja figura, mesmo após mais de duas décadas de sua morte e da proclamação da República, permanecia viva na memória coletiva. As homenagens em São Luís — da mudança de nome da avenida à criação do Instituto de História — revelam o quanto a imagem do imperador seguia cercada de respeito, admiração e forte apelo simbólico entre os maranhenses e brasileiros em geral.

Cem anos depois, ao celebrar o bicentenário de nascimento de D. Pedro II e o centenário das comemorações realizadas em São Luís, revisitar o 2 de dezembro de 1925 significa também reafirmar a relevância do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Desde sua fundação, o IHGM consolidou uma longa tradição dedicada ao estudo e à pesquisa da história e da geografia do estado, contribuindo para a preservação da memória maranhense e para a construção de sua identidade histórica.

Entretanto, não se pode ignorar os problemas que a instituição vem enfrentando nos últimos anos. O prédio próprio encontra-se sem a devida conservação; a biblioteca permanece fechada; a sala museológica está abandonada; o auditório segue desativado e sem climatização; reuniões deliberativas ocorrem apenas de forma remota; e observa-se, ainda, um preocupante desvirtuamento de suas finalidades essenciais e estatutárias. Como consequência, o IHGM chega ao seu centenário fragilizado, reduzido praticamente a uma instituição virtual, sem frequentador, sem pesquisador, sem estudante e consulente, pouco atuante, socialmente desprestigiada e marcada por eventos sociais esvaziados — desconectados da historicidade e da geografia que deveria cultivar e promover.

Assim, o que deveria ser um momento de celebração plena torna-se também um chamado à reflexão: é preciso resgatar a essência, a missão e a vitalidade da "Casa de Antônio Lopes", para que ela volte a ser referência, e não apenas aparência, na vida intelectual do Maranhão.


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