Virou ponto turístico

Cemitério de navios? Pesquisador explica curiosidades sobre 'restos' de embarcações encalhadas em Tutóia, no MA

Navios estão há décadas encalhados na região de Tutóia chamam atenção de moradores e turistas do município.

Anne Cascaes / Imirante

Atualizada em 29/09/2024 às 12h08
Dentre os navios encalhados, o mais conhecido é o navio Aline Ramos, que era cargueiro de sal. (Foto: Drone Views Slz)
Dentre os navios encalhados, o mais conhecido é o navio Aline Ramos, que era cargueiro de sal. (Foto: Drone Views Slz)

TUTÓIA – Histórias, lembranças e um mix de emoções são elementos que atravessam as pessoas quando realizam visitas a lugares como um cemitério. A saudade, principalmente, é um sentimento que se faz muito presente. Contudo, há um cemitério um tanto quanto diferente no Maranhão, onde a curiosidade se sobrepõe ao saudosismo.

Este cemitério, localizado no município de Tutóia, faz do mar um túmulo que esconde diversas histórias, mitos e curiosidades por conta dos navios que, há muitos anos, estão atracados ali, mais precisamente na barra de Tutóia. O termo "Cemitério de Navios" é como a região ficou conhecida, devido às embarcações avistadas no local.

Há relatos que mencionam mais de três navios abandonados no local. Contudo, apenas três conseguem ser, de fato, avistados. “Os navios que são avistados e, segundo Chico Carnaubeira, que trabalhou na fábrica de extração de sal Igoronhon entre 1984 e 1990, há apenas conhecimento sobre esses três navios”, afirma o cantor, compositor, professor e pesquisador Luiz Severino dos Santos, residente no município.

Turistas que realizam passeios pela Barra de Tutóia conseguem avistar as embarcações. (Foto: Anne Cascaes)
Turistas que realizam passeios pela Barra de Tutóia conseguem avistar as embarcações. (Foto: Anne Cascaes)

Entre os três navios que lá estão, o único que possui identificação, e que por conta disso se tornou o mais conhecido, é o Barão do Amazonas, batizado de Aline Ramos. O navio ficou encalhado em 1981, na ponta da Ilha do Caju, já próximo ao município de Araioses.

Relatos históricos contam que a tripulação era composta por 17 pessoas. “Alguns historiadores dizem que o navio encalhou exatamente no dia 16 de novembro de 1981, por volta das 19h40. Depois, foi rebocado para a Praia da Barra, para ser vistoriado por questões de seguro e para investigar a motivação do encalhamento”, conta Severino.

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“A tripulação era composta por 17 pessoas: dois condutores motoristas, dois moços de convés, dois marinheiros de convés, um taifeiro, um moço de máquinas, o radiotelegrafista, o eletricista, o chefe de máquinas, o segundo maquinista, um mestre de pequena cabotagem, um carvoeiro, o imediato (Tenório), o segundo piloto e o comandante, capitão-de-cabotagem (Gomes)”, acrescenta o pesquisador.

E os outros dois navios?

Segundo o pesquisador, os relatos existentes sobre os outros dois navios sem identificação indicam que eles encalharam durante a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, pouco se sabe sobre eles. “É necessário ressaltar que esses navios estão localizados na foz do rio Parnaíba, onde se forma um delta que, segundo historiadores, se assemelha a uma mão aberta, onde os dedos representam as seguintes barras: Barra de Tutóia, Barra do Caju, Barra do Igaraçu, Barra das Canárias e Barra da Melancieira”, explica Severino.

Navios já estão deteriorados por conta das décadas que se passaram após o encalhe. (Foto: Anne Cascaes)
Navios já estão deteriorados por conta das décadas que se passaram após o encalhe. (Foto: Anne Cascaes)

“Nessa região, vivem comunidades tradicionais de pescadores, artesãos, catadores de caranguejo, coletores de ostras e mariscos, que vivem de forma integrada com a natureza. A Ilha das Canárias, no município de Araioses (MA), conta com mais de 2.500 habitantes, e a comunidade de Ilha Grande dos Paulinos, no município de Tutóia (MA), onde os moradores vivem da pesca, coleta de caranguejo e artesanato com palha de carnaúba”, pontua.

Onde é possível ver o cemitério de navios em Tutóia?

Turistas que fazem os tradicionais passeios pelas convidativas ilhas que pertencem à região de Tutóia conseguem passar bem próximos aos navios e enxergar os detalhes de sua deterioração, devido às décadas que já se passaram.

“Os navios não ficam em um só local. O principal deles, o Aline Ramos, está localizado na Praia da Barra, de fácil acesso, podendo-se ir a pé durante a maré baixa, na praia próxima ao centro. O segundo navio está localizado em frente à Ilha do Cajueiro, que fica na Baía de Tutóia (Barra de Tutóia), uma das barras que se ramificam e deságuam em mar aberto (Delta Oceânico). O terceiro navio fica em um pequeno canal entre as Ilhas do Cajueiro e a Ilha do Coroatá, também na Barra de Tutóia”, explica o pesquisador.

Lendas a respeito do cemitério de navios

Como toda história antiga e curiosa, o cemitério de navios de Tutóia é cercado por lendas que são passadas de geração em geração entre moradores, trabalhadores e visitantes do local.

As histórias variam, desde peixes enormes vivendo debaixo de um dos navios até assombrações que aparecem neles, principalmente durante a noite.

“Segundo alguns populares, debaixo do casco do Aline Ramos, há camas de vários meros, conhecidos como mero-preto, canapu, canapuguaçu e garoupa-preta, que é um peixe de água salgada da família dos serranídeos e uma das maiores espécies de peixes ósseos, podendo pesar até 400 quilos. Os populares sempre alertam os turistas para não se aproximarem. Quanto aos outros dois navios, alguns moradores têm medo de passar por eles à noite, pois dizem que são assombrados”, relata Severino.

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