Estreou no último dia 23 de março e fica em cartaz até 16 de abril, os paulistanos vão poder conhecer um pouco mais da vida e da obra da compositora Dolores Duran, que fez muito sucesso entre as décadas de 40 e 50.
O espetáculo, dirigido por Luiz Fernando Marques (Lubi), "Dolores - Minha Composição" imagina um diálogo entre atriz Rosana Maris, que TROCOU IDEIA com o jornalista PEDRO SOBRINHO, no PLUGADO, na MIRANTE FM, na última sexta-feira (24/3), e a compositora, que morreu em 1959 e tem duração de 90 minutos.
No texto, temas como solidão, amor, sonhos, opressão e construção de identidade racial, ambientados em três espaços diferentes – um bar, um show e a casa da artista.
O espetáculo é costurado por músicas clássicas da carreira de Duran, interpretadas ao vivo por Maris.
Rosana canta clássicos como A Noite do Meu Bem e Fim de Caso, entre outros, acompanhada pela instrumentação de Farias, Macedo e Nunes, cuja música costura a história do espetáculo e a trajetória da cantora contada no palco. “Em alguns momentos, elas são mais ilustrativas, de momentos específicos da carreira dela, ou às vezes elas traduzem algum sentimento que Dolores descrevia em suas letras”, explica a diretora musical Fernanda Maia.
Além das canções, a peça contempla momentos pessoais de Dolores Duran e o seu relacionamento com notáveis personalidades da música brasileira, como Maysa, Tom Jobim e Vinicius de Moraes. “Do ponto de vista da obra artística, é interessante porque, de uma maneira geral, é senso comum você colocar Dolores Duran naquele lugar do samba-canção, da fossa. Mas se hoje observarmos com esses olhos da solidão da mulher negra, do patriarcado, do machismo estrutural, começamos a enxergar essas letras também como um protesto, como um grito de socorro, ou de alerta, ou de denúncia”, conta Lubi. “É interessante pensar que ela é bossa nova, mas, antes da bossa ser nova ela já aponta na composição dela fundamentos e dinâmicas artísticas que depois foram se consolidar. Poucas vezes dão esse mérito para ela”, complementa.
Para ter essa dimensão da personagem e de sua música, Rosana passou por uma preparação executada pela atriz e diretora Denise Weinberg. “O processo de criação de Dolores - Minha Composição é muito delicado, porque não é uma questão de copiar a Dolores, isso é impossível. É mais uma apropriação do universo dela, de suas músicas, de seu temperamento”, explica Denise.
Inspiração e encontro
Assinando a concepção, dramaturgia e interpretação, Rosana Maris materializa nesta peça um desejo antigo de resgatar e dar mais luz à trajetória da artista, celebrada por ela como a maior compositora do país. Nessa caminhada, descobriu que Lubi também planejava fazer uma criação teatral sobre ela, potencializando, assim, esse encontro artístico e de sonhos na montagem.
-Eu creio que Dolores se comunica demais com as plateias de hoje, com tudo que ela representava lá nos anos 1940/1950, por ela ser uma pessoa que estava muito à frente da época”, diz Rosana. Para o diretor, a trajetória de Dolores marca a presença primeira da mulher neste universo musical: “ela foi a primeira artista que pesquisei para tentar fazer uma montagem, por ela ser esse primeiro eu lírico feminino na música brasileira, com um vasto volume de produção. Nessa perspectiva da intimidade do feminino eu acho que Dolores é icônica”.
Como toda programação do Itaú Cultural, a temporada é gratuita. Os ingressos devem ser reservados pela plataforma INTI (acesso pelo site www.itaucultural.org.br). Eles são disponibilizados semanalmente a partir da quarta-feira anterior à apresentação (seguem abaixo todas as datas de início das reservas).
Dolores
Dolores Duran foi uma artista negra de origem simples, que viveu a vida como quis. Subverteu padrões e revolucionou a música brasileira, com dezenas de canções que provocam até hoje sentimentos fortes que vão de saudades e espera à solidão e ternura, sempre carregando em seus versos amor e dor.
Tendo como nome de batismo Adiléia da Silva Rocha, nasceu na periferia do Rio de Janeiro, em 1930, filha de um sargento da Marinha, que faleceu quando ela tinha apenas 12 anos. Recebeu seu primeiro prêmio aos 10 anos, no Calouros em Desfile, programa de Ary Barroso.
Aos 16 anos, adotou o nome artístico de Dolores Duran. Autodidata, cantou músicas em inglês, francês, italiano e espanhol – a versão dela para o clássico estadunidense My Funny Valentine ganhou elogios da compositora da canção, Ella Fitzgerald.
A estreia de Dolores em disco foi em 1952, gravando dois sambas para o Carnaval. Três anos depois casou-se com o radioator e músico Macedo Neto e foi vítima de um infarto e teve complicações de saúde por não seguir as recomendações médicas.
Foi uma das únicas parceiras mulheres a compor com Tom Jobim - Estrada do Sol, Se é Por Falta de Adeus e Por Causa de Você. Compositora e letrista, até hoje faz sucesso com canções como A Noite do Meu Bem, Castigo, Fim de Caso e Solidão. Também teve parcerias com artistas como Chico Anysio (Prece de Vitalina), Carlos Lyra (Se Quiseres Chorar, O Negócio É Amar) e Billy Blanco (Céu Particular).
Morreu em 23 de outubro de 1959, aos 29 anos, de ataque cardíaco.
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