CAXIAS - A cidade de Caxias foi palco de uma produção audiovisual que promete transformar a percepção das religiões de matriz africana e indígena na região. O documentário chamado “Terecô: a força que vem da raiz”, nasceu das experiências do Grupo de Pesquisa e Documentação em História Social e Política do Maranhão, e tem como foco principal o Terecô, uma prática religiosa afro-brasileira ainda pouco conhecida fora dos limites do Estado.
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A ideia para o documentário surgiu em 2019, quando o grupo realizou uma exposição fotográfica sobre festividades da umbanda e do catolicismo popular.
Durante o projeto, a equipe se aproximou das comunidades de terreiros, explorando os espaços de culto e reconhecendo a necessidade de um registro audiovisual que abordasse a riqueza dessas tradições. “Ao percebermos a carência de produções audiovisuais sobre a temática do terecô, decidimos então realizar o documentário”, explicou o professor doutor Eloy Abreu, da Uema.
Com o objetivo claro de dar visibilidade às religiões de matriz africana e indígena, o documentário se propõe a educar sobre as relações étnico-raciais e combater o preconceito racial e religioso.
A produção é um média-metragem composto por entrevistas com mães e pais de santo, filhos e filhas de santo, além de registros visuais dos espaços sagrados dos terreiros de Caxias. Esse conteúdo foi cuidadosamente coletado ao longo de seis meses, através de um projeto de extensão vinculado ao programa Bolsa Cultura, da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), com financiamento da Lei Paulo Gustavo.
A cidade de Caxias, conhecida por sua diversidade cultural, foi o cenário perfeito para a produção. As filmagens ocorreram nas casas de culto das religiões de matriz africana e indígena na zona urbana do município, com uma equipe formada por cinco estudantes de graduação e uma estudante de pós-graduação.
“A integração da comunidade foi um dos aspectos mais marcantes do projeto, com os entrevistados se mostrando receptivos e dispostos a compartilhar suas experiências e tradições”, destacou o professor.
O professor Eloy compartilhou sua satisfação em fazer parte da produção. “Produzir o documentário foi uma grande satisfação. No princípio, tínhamos apenas uma ideia, e vê-la materializada em um audiovisual é ter a sensação de dever cumprido, a sensação de que estamos disponibilizando para a sociedade um material que contribui para a erradicação do preconceito racial e religioso”, frisou ele.
Para Georgia Maria Vieira Cruz, graduanda em licenciatura em História e voluntária do projeto, o envolvimento no projeto foi transformador, tanto academicamente quanto pessoalmente. “Como historiadora e educadora em formação, fazer parte de uma produção cultural, artística e educacional como o documentário sobre religiões de matrizes africanas e indígenas, me deixa entusiasmada e muito orgulhosa ao ver o fruto de muito esforço tornando-se um produto ativo para contribuir em uma educação antirracista, além de promover e redirecionar o olhar àqueles que foram historicamente silenciados”, ressaltou.
A estudante ainda complementou: “Falar sobre ancestralidade é, e sempre será, importante, mas se crianças e adolescentes, brancas e pretas, já tiverem contato com esse conceito desde cedo, penso que a construção de uma sociedade igualitária tornaria-se cada vez mais rápida”.
O documentário, além de ser uma importante ferramenta educacional, também abriu portas para novas experiências. Georgia descreveu sua primeira visita a um terreiro, a Tenda Nossa Senhora da Conceição, em Caxias, como um momento de acolhimento e aprendizado. “Havia amor, respeito e dedicação em qualquer lugar que eu olhasse. Acompanhar o Festejo do Índio da Pedreira naquele dia me deixou encantada, e esse encanto dura até hoje”, contou, destacando o impacto profundo que essa vivência teve em sua vida.
A produção não é apenas um registro cultural, mas um convite à reflexão do papel das religiões de matriz africana e indígena na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. O documentário, que em breve estará disponível ao público, promete ser uma contribuição valiosa para a educação antirracista e para a valorização das tradições afro-brasileiras e indígenas no Maranhão.
Fazem parte da equipe de produção, além dos já citados, Reinilda Oliveira, Antero Boueres, Rayfran Pereira, Kadson Andrade e Sara Santiago.
O documentário está disponível no canal do projeto no Youtube.
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