Maduro diz que Guiana terá que 'sentar e conversar' sobre território
Venezuela quer tomar parte o território da Guiana, onde há reserva abundante de petróleo e outras riquezas naturais; países vizinhos seguem em alerta para uma possível guerra.
VENEZUELA - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou neste sábado que Guiana terá de dialogar com o seu governo sobre o território de Essequibo. A declaração ocorreu por meio de seu perfil na rede social X, antigo Twitter.
"A Guiana e a ExxonMobil terão que sentar e conversar conosco, o Governo da República Bolivariana da Venezuela. De coração e alma, queremos Paz e compreensão (...)", escreveu.
A ExxonMobil, da qual Maduro fez referência, é uma empresa petrolífera norte-americana e uma das maiores do mundo, que extrai petróleo na Guiana.
A manifestação de Maduro também reforça o que lideres nacionais têm sugerido: o governo da Venezuela tem interesse, na verdade, nas reservas gigantescas de petróleo que estão situadas em Essequibo.
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Guiana, por causa da extração do petróleo, foi o país que mais cresceu na América Latina nos últimos anos.
"Optamos pelo diálogo direto com a Guiana, mas as suas autoridades revogaram o Acordo de Genebra e começaram a dividir o nosso mar, ameaçando construir uma base militar para o Comando Sul dos EUA. [Mas eles] Não contavam com a nossa astúcia, o povo saiu em defesa da Guiana Essequiba. Não poderão ignorar a vontade soberana da Venezuela", enfatizou Maduro em outra publicação.
No último domingo Maduro promoveu um plebiscito com a população de seu país, para anexar Essequibo - que pertence à Guiana -, no território venezuelano. A população venezuelana que vive sob o regime Maduro, aprovou a medida.
Depois do plebiscito, Maduro apresentou um novo mapa de seu país, com a imagem que compreendia parte do território da Guiana.
A Corte Internacional de Justiça já se posicionou contrária ao discurso da Venezuela.
Ontem, a Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) considerou o plebiscito ilegal e alertou para as medidas adotadas por Maduro.
Mesmo assim, a Venezuela tem mantido a postura e provocado tensão entre os países da América do Sul.
Publicação de Nicolás Maduro na manhã deste sábado (9) — Foto: Reprodução/X
Lula fala com Maduro sobre crise
No telefonema com Maduro, o presidente Lula disse estar preocupado com a crise entre os dois países e defendeu o diálogo.
"O presidente Lula transmitiu a crescente preocupação dos países da América do Sul sobre a questão do Essequibo. Expôs os termos da declaração sobre o assunto aprovada na Cúpula do Mercosul e assinada por Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina, Colômbia, Peru, Equador e Chile", disse o governo brasileiro em comunicado à imprensa.
Onde fica Essequibo e a quem pertence?
Há mais de cem anos que a Venezuela e a Guiana disputam o território de Essequibo, na América do Sul. A região possui área maior que a da Grécia e, desde o fim do século 19, está sob controle da Guiana. Essequibo representa 70% do atual território da Guiana e lá moram 125 mil pessoas.
Tanto a Guiana quanto a Venezuela afirmam ter direito sobre o território com base em documentos internacionais:
- A Guiana afirma que é a proprietária do território porque existe um laudo de 1899, feito em Paris, no qual foram estabelecidas as fronteiras atuais. Na época, a Guiana era um território do Reino Unido.
- Já a Venezuela afirma que o território é dela porque assim consta em um acordo firmado em 1966 com o próprio Reino Unido, antes da independência de Guiana, no qual o laudo arbitral foi anulado e se estabeleceram bases para uma solução negociada
As duas sentenças são contraditórias. Segundo Ronaldo Carmona, professor de geopolítica da Escola Superior de Guerra e pesquisador sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o problema de Essequibo é um resquício do histórico do colonialismo na região.
O território de Essequibo (na Venezuela, chamado de Guiana Essequiba) é de mata densa e não havia muito interesse econômico na área, mas em 2015, foi descoberto petróleo na região. Estima-se que na Guiana existam reservas de 11 bilhões de barris, sendo que a parte mais significativa é "offshore", ou seja, no mar, perto de Essequibo. Por causa do petróleo, a Guiana é o país sul-americano que mais cresce nos últimos anos.
O petróleo na região agravou a disputa, porque a Venezuela argumenta que a Guiana está comercializando blocos que não são dela.
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