Os candidatos à presidência dos EUA Barack Obama, democrata, e Mitt Romney, republicano, fizeram nesta quarta-feira (3) um debate acalorado, dominado pelos temas econômicos, em que o desafiante manteve sob pressão o atual presidente, que tenta a reeleição.
O debate, dedicado principalmente aos temas da política interna e economia dos EUA, tinha seis segmentos previstos de 15 minutos cada, mas acabou não seguindo fielmente essa programação graças à "alta temperatura" da discussão entre os rivais.
A 33 dias das eleições de novembro, o debate estava sendo encarado como uma maneira de o desafiante Romney, ligeiramente atrás de Obama nas pesquisas eleitorais, "virar o jogo" sobre o adversário.
Agressivo desde o começo, o republicano atacou as políticas do presidente e disse que seu primeiro governo "não teve sucesso" ao lidar com a crise. Já Obama defendeu seu governo, bateu na tecla de que o pior da crise já passou e acusou o rival de não ter propostas claras em alguns pontos e de "repetir" políticas que já não deram certo nos governo do ex-presidente George W. Bush.
Em meio às diferenças, os dois candidatos prometeram baixar impostos para reaquecer a economia e melhorar a vida da classe média.
O editor-executivo do "PBS NewsHour", Jim Lehrer, foi o mediador.
No início, os candidatos se cumprimentaram rapidamente, sob aplausos da plateia na Universidade de Denver, no Colorado.
Criação de empregos
A primeira pergunta, para Obama, foi sobre quais são as diferenças entre os dois candidatos em relação à criação de empregos, o que gerou uma acalorada conversa também sobre carga tributária -principalmente para a classe média-, educação e produção de energia.
Obama rememorou o fato de o país ter enfrentado uma grande crise financeira e ter ficado "à beira do colapso", mas ter conseguido reagir, criando 5 milhões de empregos em 30 meses.
O atual presidente afirmou que a tarefa pela frente é de "reconstruir" o país, e que falta muito a ser feito, mas os EUA vão pelo caminho certo, com investimentos em educação e em fontes renováveis de energia.
O presidente que tenta a reeleição criticou a "perspectiva" de Romney, de baixar impostos e diminuir a regulamentação e disse que o importante é investir em educação e agir junto aos pequenos negócios.
Romney começou sua primeira intervenção parabenizando Obama pelo seu aniversário de 20 anos de casamento.
Depois, em uma tentativa de "humanizar" sua fala, contou a história de uma eleitora desempregada que lhe relatou sua situação.
Em um tom seguro e firme, ele acusou o governo atual de criar um ambiente hostil para as pequenas empresas, com muitos impostos e regulamentações.
Romney definiu o governo democrata de Obama como um "governo de cima para baixo", que "não obteve sucesso na economia".
Romney prometeu fazer os Estados Unidos "voltarem a funcionar", e disse que seu programa econômico segue "um caminho diferente" do de Obama, acusando o presidente de ter proposto uma plataforma eleitoral de quatro anos atrás e que não deu certo.
Obama, que usava uma gravata azul, cor do seu Partido Democrata, voltou a prometer investimento em educação e criação de empregos, alertando para o risco de fuga de empresas para outros países.
O democrata disse que é necessário reduzir as despesas do governo, ao mesmo tempo que cuidar do investimento em fontes alternativas de energia, tudo isso sem onerar a classe média americana.
"Os EUA vão melhor quando a classe média vai melhor", disse Obama.
O republicano retomou a palavra traçando um cenário sombrio e dizendo que a classe média americana está sendo "esmagada" por custos como o do combustível.
Romney reafirmou a necessidade de enxugar os gastos do estado e aliviar os impostos da classe média e das empresas, mas sem que isso acarrete perda de receita e sem aumento do déficit público.
Ele também citou a necessidade de criar novos mercados para os EUA, em especial com a América Latina, para "enfrentar a China, esteja ela trapaceando ou não".
Essa abertura comercial era um dos cinco pontos do plano econômico proposto por Romney. Os outros são: independência energética; educação; orçamento público equilibrado; e ajuda aos pequenos negócios.
Obama voltou à carga citando dados tributários e acusando Romney de planejar aumentar a carga de impostos da classe média e também de não explicar como vai aumentar os incentivos fiscais.
Romney, por sua vez, acusou o plano de corte de impostos de Obama de "custar" 700 mil empregos.
O democrata retrucou chamando o plano de Romney de "ultrapassado" e já usado pelos republicanos.
"Quente", o primeiro bloco do debate "estourou" o tempo previsto.
Déficit
A segunda pergunta foi sobre a questão do déficit federal.
Desta vez, Romney começou respondendo, garantindo que não planeja aumentar o déficit.
Ele acusou Obama de ter dobrado a dívida pública, ao que o presidente replicou dizendo que já assumiu com um déficit alto.
O democrata defendeu sua política fiscal afirmando que "cortou gastos que não estavam dando certo".
Incisivo, Romney reafirmou o que chamou de "fracasso" de Obama em cortar gastos, dizendo que o democrata prometeu cortar a dívida pela metade, mas não o fez, e que o nível atual da dívida pública americana era "imoral".
Ele também afirmou acreditar que aumentar impostos não gera equilíbrio orçamentário e disse que, em seu governo, os EUA não iriam "trilhar o caminho da Espanha", que segundo ele dedica "mais de 40% do orçamento público ao governo".
Previdência Social
A terceira pergunta foi sobre seguridade social.
Obama reafirmou a importância do seguro social, e Romney afirmou que não planeja mudanças para os pensionistas.
O presidente acusou seu rival de não ter apresentado claramente suas propostas para a previdência social e defendeu o chamado "Obamacare", aprovado pelo democrata, reafirmando a necessidade de baixar os custos do acesso à saúde para a população.
Regulamentação da economia
A quarta pergunta voltou à seara da economia, versando sobre a regulamentação.
Romney afirmou que há excesso de regulamentação econômica no governo Obama, o que prejudicou os EUA.
O democrata retrucou lembrando da crise de Wall Street: "Vocês acham que havia excesso de regulamentação em Wall Street?", desafiou.
Na análise do democrata, a crise econômica internacional foi deflagrada pela falta de regulamentação.
Saúde
Romney afirmou que o custo do acesso à saúde no país é alto e deu como exemplo o que fez em seu estado natal Massachusetts, quando foi governador.
Obama reafirmou que o acesso a saúde barata é fundamental para "garantir segurança" às famílias de classe média, o que, segundo ele, foi obtido pelo "Obamacare".
Ele afirmou que, em Massachusetts, os democratas participaram da criação do modelo de acesso à saúde, no que foi imediatamente contestado pelo republicano.
Romney acusou Obama de "forçar" a aprovação do Obamacare sem discuti-lo com a oposição. O presidente respondeu dizendo que consultou especialistas para aprovar seu plano e disse que ele vem funcionando na prática, diminuindo os custos.
Questionado pelo mediador, Romney voltou à carga afirmando que, com a revogação do Obamacare, os custos baixariam.
Papel do governo
Questionado sobre o papel do governo, o atual presidente disse que, para ele, o principal é manter o cidadão seguro, mas que ele também pode abrir oportunidades, sem restringir a liberdade das pessoas.
Romney afirmou que pretende manter os gastos militares e, citando Deus, disse que devemos nos ajudar, mas que o governo não pode fazer melhor que as "pessoas que buscam o seu próprio sonho". Para ele, o alto nível de desemprego do governo Obama é a prova de que o governo "não está funcionando".
Educação
Questionado sobre educação, Obama afirmou que pretende trabalhar em conjunto com os governadores para melhorar o setor. Ele voltou a acusar Romney de ser pouco preciso nas propostas para o setor.
O republicano acusou Obama de não investir em educação tanto quando apregoa e prometeu não cortar verbas no setor.
Impasse partidário
A últimas pergunta foi sobre o que os candidatos fariam para tentar impedir o tradicional "impasse" no Congresso.
Romney prometeu negociar desde o primeiro dia de seu eventual mandato com os dois principais partidos, como fez, segundo ele, quando era governador.
Obama disse que aceita ideias da oposição, contanto que elas favoreçam a classe média.
Considerações finais
Ao encerrar sua participação, Obama relembrou o fato de o país ter, segundo ele, atravessado "o pior" da crise.
Ele disse que tem uma boa avaliação de seu governo, lembrou que havia alertado que "não era perfeito", mas prometeu que vai continuar, no segundo mandato, a luta para fazer com que mais pessoas entrem para a classe média.
Já Romney afirmou que a eleição é maior que os candidatos e os partidos, pois trata dos rumos dos Estados Unidos.
Ele prometeu criar 12 milhões de novos empregos e dar "uma forma de vida para as pessoas" e dar condições para que "a classe média volte a trabalhar".
Famílias
Ann Romney e vários outros parentes do republicano assistiram ao debate.
Do lado do democrata, a primeira-dama Michelle Obama estava lá, mas não as filhas do casal, Sasha e Malia.
Próximos debates
O próximo debate presidencial deve ocorrer em 16 de outubro, em Hempstead, Nova York, segundo a comissão pluripartidária que tradicionalmente organiza os encontros.
Antes disso, os candidatos à vice Joe Biden e Paul Ryan vão debater em Danville, no estado do Kentucky, em 11.
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