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José Sarney é ex-presidente da República.
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A política é o permanente

No artigo deste fim de semana de José Sarney ele trata sobre o ciclo vicioso que ocorre na política brasileira que tem levado ao desprestígio da política.

José Sarney

Atualizada em 02/05/2023 às 23h37
José Sarney mostra que sem a política as instituições democráticas não funcionam
José Sarney mostra que sem a política as instituições democráticas não funcionam (Foto: Paulo Soares/O Estado)

SÃO LUÍS - A política, não só no Brasil, mas em toda parte, tem andado numa maré de desprestígio. Isso é da maior gravidade, pois gera um círculo vicioso: os jovens que se preocupam com a sociedade e com a justiça social se afastam da vida pública, que passa a ser ocupada cada vez mais por pessoas incompetentes que trabalham por seus interesses pessoais, esquecendo o Estado e o bem comum, aumentando o desgaste da política.

Sem a política, é impossível que as instituições democráticas funcionem. Se onde elas existem a coisa é difícil, imaginem onde não existem.

Aristóteles dizia que o discurso, próprio do homem, serve para distinguir o justo e o injusto, e assim buscar o bem. Daí a criação do Parlamento e da representação política. O Parlamento é a maior instituição política já criada pelo homem na busca do autogoverno. Nele o povo detém o poder de questionar, de protestar, de fiscalizar, de mudar. Deve ser sagrado na cabeça do povo. Ele é a essência das liberdades. Quando o Parlamento é fechado ou nulo, o sistema se abala.

Há bons políticos e maus políticos. Não vamos generalizar. Uma das excelências da democracia representativa é que ela se constitui sempre de mandatos transitórios, e o povo tem o poder de mudá-los, expulsá-los da política.

No Brasil, queremos fazer que a democracia funcione sem partidos, sem políticos, sem política. Ela está a cada dia descambando mais para uma ação concentrada entre amigos e inimigos que se reúnem em questões tópicas para gerir crises e administrar o cotidiano. Não existe nenhuma visão prospectiva da solução dos problemas do País.

Fomos incapazes de aprofundar a democracia que conquistamos e construímos. O desenvolvimento estagnado e medíocre do neoliberalismo mostrou-se incapaz de assegurar um mínimo de justiça social e oportunidade de melhor qualidade de vida.

Eu fico preocupado. Não com a democracia, mas com a qualidade e a saúde de nossa democracia. Já muito foi dito que ela é mais um estado de espírito do que um regime. Com o exercício de eleições passamos a julgar a democracia unicamente por estas. Não bastam instituições democráticas, mas é preciso educação democrática.

O Brasil perde gradativamente o respeito pelos valores da democracia, que passam a ter o crivo da circunstância, sem a noção de que um sistema de valores é perene e aspira à eternidade. Acumulamos um retrocesso. Destruíram-se os partidos, acabaram-se as ideias, sumiram os programas, a ética e a moralidade foram banidas do processo político. É o caos.

O problema, assim, é político. O resto é conjuntura. A política é o permanente.

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