O São João do Maranhão
Já na casa dos noventa, carrego uma saudade morta da São Luís da minha adolescência.
Como pensam os dirigentes políticos das Casas Legislativas, eu também, como filho do Nordeste, deste Meio Norte do Maranhão e Piauí na classificação dos geógrafos, estou fugindo do frio de Brasília, ou melhor, da pneumonia que ataca nesses meses no Planalto Central. Volto a minha terra, o Maranhão, minha grande paixão. Por que não confessar? Venho em busca de Santo Antônio, São João, São Pedro, São Paulo e São Marçal, que são festejados durante todos os dias de junho pelos cordões do bumba-meu-boi, mais de trinta grupos, cada um com seu ritmo próprio: Matraca, Tambor, Orquestra, Pandeirão, Costa de mão e muitos outros inventados ou ressuscitados de memórias antigas.
Já na casa dos noventa, carrego uma saudade morta da São Luís da minha adolescência. A cidade daquela época desapareceu e, pior que a cidade, desapareceram também a quase totalidade dos amigos e das gentes com quem convivi, das coisas, dos bondes, único transporte coletivo na época. Carros? Nem pensar. Devia haver no máximo vinte, todos com os donos conhecidos na cidade, e mais cinco táxis, cujos motoristas vestiam terno e gravata e aceitavam corridas com hora marcada.
Procuro os tempos da adolescência, dos caminhos pelos quais o destino me levou, de líder estudantil, político, poeta, jornalista e depois o homem na constituição da família. Todos e tudo ofuscados por estes tempos de menino, em que começava a descobrir o mundo, as cores, a natureza, as noites e os encantos no acompanhamento das brincadeiras de bumba-meu-boi pelos subúrbios da Ilha de São Luís, com nosso pequeno grupo de jovens intelectuais — Bandeira Tribuzzi, José Carlos Macieira, Ferreira Gullar, Bello Parga, Lago Burnett, Lucy Teixeira — e com os pintores — Floriano, Cadmo, Figueiredo, Pedro Paiva —, alguns já com namoradas naquele tempo. Onde estão? Na minha memória, e um dia desaparecerão comigo.
Hoje, o São João é show, cantores de fora e da cidade, quadrilhas e danças portuguesas, além de humoristas contratados pelos vários arraiais, que proliferam na cidade e na televisão. Os vários canais de tevê locais, com anúncios da disputa de público, a dizer que o São João do Maranhão é o melhor do mundo! E eu concordo!
Mas prossigo em minha busca dentro de mim e não encontro mais aquele pobre São João do meu tempo, mais belo que as belas que hoje desfilam de biquíni de índia, enfeitadas de todas as cores, na mistura de carnaval e Pai Francisco e Catirina, personagens do Auto do Boi.
Os cultos de Santo Antônio, São João e São Paulo sumiram, mas São Pedro resistiu, e a procissão marítima ainda é um acontecimento que mobiliza a cidade que vai para as praias admirá-la.
Mas há uma novidade, que é São Marçal, que não existia no meu tempo. Hoje o último dia de junho é reservado a ele e, no Bairro do João Paulo, na praça tradicional, a partir da meia-noite do dia 29, ele já começa a ser festejado com todos os cordões do bumba-meu-boi, juntos numa confraternização e no esquecimento da disputa do mais belo para jurar e entrar no mês de julho com o mesmo São João, agora louvando São Marçal.
Mas quem é São Marçal? Muitos afirmam que ele não faz parte da relação dos santos católicos. Vou à Wikipédia e lá encontro:
O Festejo de São João e São Marçal são dois eventos religiosos e da cultura popular realizados em São Luís, capital do Maranhão. Marcam o encerramento das festividades juninas no Estado.
Viva São João!
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