O Serviço Social como Trabalho abstrato e concreto no capitalismo

O Serviço Social, enquanto profissão inserida na divisão social do trabalho capitalista, apresenta uma dupla determinação: ele é, simultaneamente, trabalho abstrato e concreto. No contexto do capitalismo, todo trabalho assalariado se configura como trabalho abstrato, pois se insere na lógica da mercadoria, sendo reduzido a um valor de troca. No entanto, enquanto prática profissional, o Serviço Social manifesta sua dimensão concreta, pois envolve atividades específicas voltadas para a reprodução social e a garantia de direitos.

Trabalho Abstrato e Serviço Social

No capitalismo, o trabalho abstrato é aquele que, independentemente de sua especificidade, contribui para a produção e reprodução das relações sociais capitalistas. Segundo Karl Marx (2013), o trabalho abstrato corresponde àquele que gera valor, ou seja, que se expressa na forma mercadoria e é mediado pelo mercado. Dessa forma, o trabalho do assistente social, ainda que tenha um viés voltado ao atendimento das necessidades sociais, insere-se nessa lógica, pois é parte da força de trabalho vendida no mercado e remunerada na forma de salário.

Como destaca Netto (2011), o Serviço Social se configura como uma profissão que integra o aparato técnico-burocrático do Estado e das empresas, sendo, portanto, uma ocupação vinculada à divisão social do trabalho determinada pelas necessidades do capital. O assistente social atua na gestão da força de trabalho e na reprodução das condições sociais necessárias à acumulação do capital, o que reforça sua inserção como trabalho abstrato.

A Concretude do Trabalho do Assistente Social

Por outro lado, o Serviço Social não se resume à sua dimensão abstrata, pois, enquanto profissão regulamentada e mediada por um projeto ético-político, ele envolve práticas concretas voltadas à intervenção nas expressões da questão social. Como trabalho concreto, ele se materializa em ações diretas junto a indivíduos, grupos e comunidades, na formulação e implementação de políticas sociais e no atendimento de demandas relacionadas à reprodução da vida social.

Iamamoto (2007) enfatiza que o trabalho do assistente social possui um caráter técnico e interventivo, exigindo conhecimentos específicos sobre a realidade social e os instrumentos metodológicos para enfrentamento das desigualdades. Essa dimensão concreta do Serviço Social evidencia que, ainda que esteja subordinado às exigências do capital, ele pode ter um papel estratégico na defesa dos direitos sociais e no fortalecimento da organização coletiva dos trabalhadores.

Conclusão

O Serviço Social, como qualquer profissão inserida no modo de produção capitalista, apresenta uma contradição entre sua determinação abstrata e sua materialização concreta. Enquanto trabalho abstrato, ele se insere na lógica da mercadoria e da acumulação capitalista. No entanto, sua prática concreta permite a intervenção nas expressões da questão social e a defesa dos direitos da classe trabalhadora. Essa dualidade exige dos assistentes sociais uma postura crítica e comprometida com a transformação social, superando a mera instrumentalidade do trabalho e fortalecendo sua dimensão emancipatória.

Referências

IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. São Paulo: Cortez, 2007.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I. São Paulo: Boitempo, 2013.

NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 2011.

 

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