“O coração da democracia é a liberdade”, diz ex-presidente José Sarney em sessão especial de comemoração dos 40 anos da redemocratização do Brasil
O primeiro presidente civil a assumir o país após 21 anos da ditadura militar foi homenageado em sessão especial no Senado Federal. Em seu discurso emocionado, José Sarney relembrou feitos históricos do seu governo e destacou o papel da democracia.
BRASÍLIA - Político experiente, conciliador e responsável por conduzir a abertura política e garantir a consolidação das instituições democráticas após o fim da ditadura militar, o ex-presidente da República José Sarney (MDB) recebeu, nesta terça-feira (18), uma homenagem no Senado Federal em comemoração aos 40 anos da redemocratização do Brasil.
Em seu discurso emocionado no plenário, o primeiro presidente civil a assumir o país após o regime militar destacou a importância da democracia na construção da liberdade, possibilitando o fortalecimento do país e a ampliação dos direitos da população.
“Com a maior emoção, recebo essa homenagem do Senado, com extrema gratidão e com a memória do meu coração (…) O coração da democracia é a liberdade, essa liberdade que deságua na formação do Congresso Nacional. Somos uma democracia de massa, é preciso que se diga sempre isso, onde o povo participa, a cidadania exerce todos os seus direitos civis e individuais. Posso dizer, como Fernando Pessoa dizia: ‘Como destino, eu cumpri com o meu dever’”, destacou o ex-presidente José Sarney.
Ao longo de mais de 20 minutos de discurso, em um plenário repleto de amigos, representantes do Executivo, Legislativo e Judiciário, Sarney, com seu conhecimento ímpar como estudioso dedicado à política brasileira, fez uma viagem pela história do Brasil. Ele relembrou fatos históricos que levaram à construção do acordo que resultou na eleição de Tancredo Neves e no fim da ditadura militar.
José Sarney destacou feitos de seu governo, de 1985 a 1990, mencionando a universalização do acesso à saúde com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), viabilizada pela Constituição de 1988, promulgada durante sua gestão. Além disso, ressaltou sua contribuição para o fim de conflitos históricos entre países como Brasil e Argentina e a importância de ter transformado a América do Sul em uma região livre de disputas nucleares.
“Implantamos, em meu governo, a universalização da saúde, o mercado seguro, o Atlântico Sul como zona de paz. Transformamos a relação entre Brasil e Argentina, encerrando divergências históricas e nos unindo para fundar o que veio a ser o Mercosul, depois o Tratado de Buenos Aires, e acabamos com a disputa nuclear, o que possibilitou que este fosse o único continente livre de armas nucleares”, relembrou Sarney.
Aos 94 anos, em um discurso firme, que ressalta sua influência na política brasileira, José Sarney relembrou os passos de Tancredo Neves. Fez uma homenagem ao ex-presidente eleito, com quem dividiu a honraria da sessão, e destacou sua importância para a reconstrução da democracia brasileira após o fim da ditadura militar.
“Sem ele, não existiria esta sessão. Estaríamos, talvez, mergulhados na escuridão, sem saber o que poderia ocorrer. Muitos brasileiros deram a vida por este país, mas Tancredo deu a sua morte”, reforçou Sarney.
A sessão especial no Senado Federal, na qual José Sarney foi homenageado, marcou uma semana de eventos e homenagens que destacam os 40 anos da redemocratização no Brasil.
A homenagem foi proposta pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO) e contou com a presença de inúmeros políticos e representantes dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo.
Entre os presentes estavam o presidente do Senado, senador Davi Alcolumbre (União-AP); o ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli; o deputado federal e neto de Tancredo Neves, Aécio Neves; o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) e a ministra da Cultura, Margareth Menezes.
A Redemocratização
José Sarney assumiu interinamente a Presidência do Brasil em 15 de março de 1985, encerrando um capítulo de repressão política, censura e ausência de direitos democráticos na história brasileira: a ditadura militar. O maranhense foi o primeiro civil na presidência do país após o regime autoritário – o último havia sido João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964.
O processo de retomada da democracia foi considerado cauteloso e contou com negociações entre as elites políticas e militares do Brasil. Tancredo Neves foi responsável por articular esse acordo, denominado Aliança Democrática, que mobilizou o país em favor de um Brasil livre de censura.
Com a vitória de Tancredo Neves, eleito indiretamente por um colégio eleitoral em janeiro de 1985, a expectativa era de que esse seria o início da Nova República, com o retorno de um presidente civil ao poder. Entretanto, naquele mesmo período, ele precisou ser hospitalizado para uma cirurgia no abdômen.
Diante da crise de saúde enfrentada por Tancredo, a política brasileira viveu semanas conturbadas em 1985, marcadas por intensos debates sobre o futuro do Brasil e a viabilidade da Nova República.
Havia o receio de que os militares não entregassem o poder e a incerteza sobre quem assumiria até que Tancredo pudesse se recuperar. Na época, dois nomes se destacavam como sucessores potenciais: o vice-presidente José Sarney e o presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães (MDB-SP).
Nenhum dos dois era unanimidade entre os militares. A noite de 14 de março e a madrugada de 15 de março de 1985 foram marcadas por intensas negociações entre o novo governo eleito e o regime militar.
Em 15 de março de 1985, José Sarney foi empossado como vice-presidente do Brasil e assumiu como presidente interino até a recuperação de Tancredo Neves. Na prática, a ditadura militar no Brasil chegava ao fim. Tancredo, no entanto, faleceu 39 dias depois, e Sarney assumiu definitivamente a Presidência da República.
Precursor da Constituição de 1988
José Sarney esteve à frente da Presidência do Brasil entre 1985 e 1990, período em que liderou mudanças significativas na história do país, como a implementação de uma política internacional mais aberta e a convocação da Assembleia Nacional Constituinte, que resultou na promulgação da atual Constituição Brasileira, em 1988.
A Constituição de 1988 marcou o início da consolidação democrática no país, garantindo direitos civis, políticos e sociais, fortalecendo a participação popular e limitando o poder do Estado.
Sarney também buscou uma política externa mais internacionalizada, aproximando o Brasil de outros países da América Latina e lançando as bases para a criação do Mercosul – bloco formado pelo Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia.
Vida Política Pós-Presidência
Após deixar a Presidência da República, José Sarney foi eleito senador por três vezes pelo Amapá e presidiu o Senado Federal em quatro ocasiões. Sarney é considerado um dos políticos mais influentes e relevantes da história brasileira.
Homenagem a José Sarney pela redemocratização do país no Senado Federal









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