Inovação e representatividade

IFMA desenvolve aplicativo para compreensão da Língua Guajajara

O software foi elaborado por professores, técnicos administrativos, estudantes e indígenas.

Imirante, com informações da Ascom/IFMA

IFMA desenvolve aplicativo para compreensão da Língua Tentehar – Guajajara.
IFMA desenvolve aplicativo para compreensão da Língua Tentehar – Guajajara.

GRAJAÚ - A língua Tentehar, também conhecida como Guajajara, é uma língua indígena da família Tupi-Guarani, falada no Maranhão e uma das mais utilizadas no Brasil. Dando início ao mês de abril que comemora no dia 19 Dia dos Povos Indígenas, Instituto Federal do Maranhão (IFMA) obteve, junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o registro do software Zane Ze’ge – aplicativo desenvolvido no Campus Grajaú para facilitar o aprendizado de termos e expressões do idioma. A ferramenta reforça a preservação da cultura indígena em um momento dedicado à valorização das origens brasileiras.

O aplicativo – que se originou de projeto que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Maranhão (FAPEMA) – vai auxiliar estudantes e professores da educação básica a acessarem, de forma prática, informações, termos e expressões da Língua Tentehar – Guajajara sem a necessidade de dicionários físicos ou sites da internet. O programa também contribui para alcançar os objetivos da lei nº 11.645/2008, que institui o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas. 

O sistema foi desenvolvido por uma equipe multidisciplinar composta por estudantes dos cursos técnicos em Informática e Administração, por técnicos administrativos e professores das áreas de Sociologia, História e Informática.

Por enquanto o aplicativo está disponível para os desenvolvedores e pesquisadores, mas a inclusão nas plataformas para download já está prevista na próxima etapa do projeto. “Nas próximas versões esperamos trazer mais termos e expressões e também disponibilizar áudio”, destacou o coordenador do projeto e professor de sociologia, Charles dos Santos.

A estudante Yumi Atanazio Guajajara, bolsista da Fapema de iniciação de desenvolvimento tecnológico e inovação, com os professores Charles dos Santos (à esquerda), e Dhiogo Gomes.
A estudante Yumi Atanazio Guajajara, bolsista da Fapema de iniciação de desenvolvimento tecnológico e inovação, com os professores Charles dos Santos (à esquerda), e Dhiogo Gomes.

“Foi uma experiência de muita parceria e aprendizado, em que trabalhamos em conjunto com integrantes do Núcleo Indígena do campus e com estudantes que são Tentehar – Guajajara”, afirma Charles. “Aprendemos muito sobre linguagem, costumes e tradições do Povo Tentehar – Guajajara e ver que professores e estudantes da região e do Maranhão sentem a necessidade de ferramentas tecnológicas que auxiliem nesse processo de conhecimento das línguas indígenas”, destacou.

Para Alexssandra Regina Lopes Guajajara Silva, coordenadora do Núcleo Indígena do Campus Grajaú, a participação do Núcleo foi fundamental em todo o processo de desenvolvimento do aplicativo. “Atuamos desde a ideia até a validação do conteúdo, sempre em diálogo com os professores envolvidos no projeto”, mencionou. “Essa parceria garantiu que o aplicativo refletisse de forma fiel à cultura, a língua e as necessidades dos povos indígenas da nossa região”, prosseguiu.

O núcleo realizou a escuta dos estudantes e lideranças das comunidades, o que contribuiu para tornar o aplicativo mais representativo e funcional. “Eu, como indígena, vejo esse projeto como um marco para a valorização da nossa língua e cultura”, avaliou Alexssandra. “Os alunos indígenas participaram ativamente do processo, contribuindo com palavras, expressões e reflexões importantes para a construção do glossário Zane Ze’eg e foi muito bonito ver o envolvimento deles, sentindo-se representados e protagonistas dessa iniciativa”, destacou. “Todo o trabalho foi construído com escuta, respeito e diálogo, fortalecendo nossa identidade e mostrando que nossa língua também pode ocupar os espaços tecnológicos”, prosseguiu.

O software foi elaborado por professores, técnicos administrativos, estudantes e indígenas, com bolsa de iniciação de desenvolvimento tecnológico e inovação da FAPEMA.
O software foi elaborado por professores, técnicos administrativos, estudantes e indígenas, com bolsa de iniciação de desenvolvimento tecnológico e inovação da FAPEMA.

Filha de mãe indígena, a estudante do curso de Informática do campus, Yumi Atanazio Guajajara, 18, foi bolsista do projeto em iniciação de desenvolvimento tecnológico e inovação, com apoio da FAPEMA, e destacou a sua importância para a comunidade indígena. “Na aldeia não é tão falado português quanto na cidade e há uma dificuldade de entender certas expressões na língua portuguesa e vice-versa, como quem fala português tem dificuldade de entender a língua Tentehar”, explicou. 

“O glossário do aplicativo e a tradução de alguns termos e expressões ajudam na escola, no trabalho e na comunicação, para o entendimento da língua e da cultura”, avaliou. “É muito importante tanto na escola, para professores e estudantes entenderem alguns termos da linguagem e tanto para o próprio indígena também entender”, prosseguiu.

“Essa primeira versão já tem gerado impactos positivos e, com certeza, foi um passo importante para promover uma educação mais inclusiva e conectada com os saberes indígenas”, pontuou Alexssandra  Guajajara. “Foi a realização de um sonho coletivo e  aplicativo Zane Ze’eg é mais do que uma ferramenta — é um ato de resistência, de memória e de amor pela nossa língua e cultura”, concluiu.

Inovação e credibilidade 

O registro de software pelo INPI confere ao aplicativo Zane Ze’ge uma proteção legal essencial, assegurando os direitos autorais ao IFMA Campus Grajaú. O reconhecimento oficial fortalece a credibilidade do projeto, valorizando o trabalho da equipe de desenvolvimento e incentivando novas inovações. Além disso, proporciona segurança jurídica, protegendo contra cópias não autorizadas e o uso indevido do software.

“É uma sensação muito boa, pois esse registro garante a proteção de um software que é fruto da pesquisa e do trabalho de várias pessoas comprometidas com a educação e os direitos humanos e nos motiva a seguir inovando”, afirmou Rodrigo Macedo, professor de Informática do campus e um dos integrantes da equipe que desenvolveu o aplicativo. “É uma forma de reconhecer o trabalho dos pesquisadores, colaboradores e estudantes e também situar o IFMA-Grajaú como polo de inovação em tecnologia educacional”, prosseguiu.

Elaborado por meio linguagem de programação JavaScript,  o App foi desenvolvido, entre 2023 e 2024, durante a vigência de projeto de inovação tecnológica (PIBITI) coordenado por Charles dos Santos. “O aplicativo ainda vai passar por melhorias, mas já há interesse na comunidade em usar o Zane Ze’eg nas escolas”, afirmou.  “Pretendemos continuar aperfeiçoando a ferramenta, garantindo a inserção de mais dados, melhorando a acessibilidade e a experiência dos usuários”, prosseguiu. “Estamos buscando parcerias com pesquisadores indígenas de instituições da região, como a UEMA e a UFMA, e moradores das aldeias indígenas da região”, pontuou.

Equipe

A equipe de desenvolvimento é composta por Yumi Atanazio Acelino e Silva Guajajara (estudante); Cleciomar Ribeiro de Sousa Guajajara (estudante); Yaslee Ribeiro Lopes Guajajara (estudante); Alexssandra Regina Lopes Guajajara Silva (Núcleo Indigena do Campus); Domingos Bernardo Guajajara Junior (Núcleo Indigena do Campus); Kawana Lopes Guajajara da Silva (Núcleo Indigena do Campus);  Hamilton de Arruda Souza (TAE); Charles dos Santos (professor/sociologia); Rodrigo da Costa Barros Macedo (professor/informática); Paulo Ericson Valentim (professor/informática);  Dhiogo Rezende Gomes (professor/história).

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.

Em conformidade com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) - Lei nº 13.709/2018, esta é nossa Política de Cookies, com informações detalhadas dos cookies existentes em nosso site, para que você tenha pleno conhecimento de nossa transparência, comprometimento com o correto tratamento e a privacidade dos dados. Conheça nossa Política de Cookies e Política de Privacidade.