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COLUNA
Marcos Silva
Marcos Silva é assistente social, historiador, geógrafo e sociólogo. É mestre em Desenvolvimento Socioespacial e Regional PPDSR pela UEMA.
Marcos Silva

A China e o Mercado Global: uma globalização anti-imperialista à luz da teoria leninista

A acusação de que a China adota uma postura imperialista na economia global tem sido recorrente nos discursos das potências ocidentais, especialmente dos Estados Unidos e da União Europeia.

Marcos Silva

A acusação de que a China adota uma postura imperialista na economia global tem sido recorrente nos discursos das potências ocidentais, especialmente dos Estados Unidos e da União Europeia. No entanto, uma análise à luz da teoria leninista do imperialismo, difundida por Vladimir Lenin em sua obra "O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo" (1916), revela que a atuação da China no cenário internacional não apenas se afasta dos fundamentos clássicos do imperialismo, mas também configura um modelo alternativo de globalização com traços claramente anti-imperialistas.

Segundo Lenin, o imperialismo é uma fase superior do capitalismo, caracterizada por cinco aspectos fundamentais:

1. A concentração da produção e do capital em monopólios;

2. A fusão do capital bancário com o industrial, formando o capital financeiro;

3. A primazia da exportação de capitais sobre a exportação de mercadorias;

4. A formação de associações internacionais de capitalistas que dividem o mundo entre si;

5. A partilha territorial do planeta entre as grandes potências.

Embora a China seja atualmente a segunda maior economia do mundo, sua estratégia de inserção global não se encaixa nesse padrão. Ao contrário das potências ocidentais, a China não utiliza a força militar para abrir ou manter mercados, nem impõe condicionalidades políticas neocoloniais aos países com os quais estabelece relações econômicas. Projetos como a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) têm sido criticados como formas de "diplomacia da dívida", mas diferem radicalmente das práticas do imperialismo tradicional europeu, baseando-se na cooperação, na construção de infraestrutura e em parcerias de benefício mútuo.

A China exporta mercadorias, serviços e tecnologia — em vez de capital financeiro voltado ao controle territorial ou político. Mais do que isso, Pequim investe no multilateralismo e no fortalecimento de alianças como o BRICS, que visam romper a hegemonia unipolar sustentada pelo dólar e pelas instituições controladas pelo eixo Estados Unidos-União Europeia. Trata-se de uma visão de mundo multipolar, onde os países do Sul Global podem se desenvolver com soberania e autodeterminação.

É importante destacar que a China não busca dividir o mundo em zonas de influência sob seu domínio. Sua atuação na África, América Latina e Ásia Central se dá por meio de financiamentos, investimentos em infraestrutura e transferência tecnológica em condições amplamente mais favoráveis do que as oferecidas por organismos como o FMI ou o Banco Mundial. Trata-se de uma prática que se aproxima mais de uma solidariedade internacionalista do que de uma estratégia imperialista de exploração, como a descrita por Lenin.

Além disso, o modelo chinês de globalização representa uma ruptura com a lógica centro-periferia que estruturou o capitalismo global desde o século XIX. Ao promover a industrialização, a conectividade e a autonomia econômica dos países periféricos, a China desafía a ordem mundial hegemonizada pelo capital financeiro ocidental. Rotular a China como “imperialista” é, na verdade, um recurso ideológico do bloco imperialista tradicional para disfarçar sua perda de hegemonia global.

Em síntese, o imperialismo leninista é um projeto de dominação militar, financeira e política a serviço do grande capital. A China, por outro lado, propõe uma reconfiguração das relações internacionais baseada na soberania, na cooperação econômica e na não intervenção — valores que são inconciliáveis com o imperialismo clássico. Classificá-la dessa forma equivale a um retrocesso em relação ao capital financeiro do Ocidente.


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