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Coluna do Sarney
José Sarney é ex-presidente da República.
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Natal, pacto de Deus

Já está chegando o Natal. Ouvimos as badaladas dos sinos do Advento. A memória da chegada do Menino Jesus, que fez a opção pelos pobres entre os mais pobres.

José Sarney

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Já está chegando o Natal. Ouvimos as badaladas dos sinos do Advento. A memória da chegada do Menino Jesus, que fez a opção pelos pobres entre os mais pobres. É o momento de receber, entre sorrisos e esperanças, o Deus que veio para dizer que não estamos sós neste universo de fogo e de silêncios — e que fez um pacto com os homens na Terra.

Eu, ao longo da vida, sempre tive a certeza de que Deus estava vigiando as minhas ações, omissões e pecados.

O Deus da minha infância, que me guardava nas noites escuras de fantasmas e mistérios. O Deus da minha juventude, que me protegeu das dúvidas, nos caminhos da fé. O Deus da minha maturidade, consolidado, amigo e pai. O Deus da minha velhice, que me receberá um dia, na morte, e perguntará:

— José, onde estão tuas mãos que eu enchi de estrelas? Tua cabeça onde pus meus votos de proteção?

E eu responderei:

— Estão aqui, nesta vida, como todas as vidas, de flores vivas em dias de alegria e de flores murchas em dias de ausência e silêncio.

O Natal é a festa da família. É a maior festa da humanidade. Celebramos a memória do pacto de Deus com os homens. Ele mandou seu filho ao mundo para comungar conosco da Graça da vida. Deu-nos um código de comportamento: “todos somos iguais, filhos do mesmo pai”; “amai-vos uns aos outros’ e “que tenham paz”, a paz interior, esta da reconciliação do homem com o próprio homem.

Mas mudou o Natal ou mudei eu? A pergunta de Machado de Assis é quase lugar-comum, tantas vezes citada, mas é pertinente. Mudou o Natal. O mundo mudou.

Mas o meu Natal, indestrutível, é o Natal da minha infância. Meu avô, minha avó, meu pai, minha mãe, meus irmãos, como se fossem figuras do próprio presépio. Éramos felizes. O tempo não tinha o cheiro azedo de um mundo transformado. Era o cheiro do alecrim e cravo.

Recordo-me de minha avó a preparar o presépio. A semear arroz com antecedência na terra preparada em volta da manjedoura. Quando nascia, era o verde. Os burrinhos e bichos eram de buriti. A estrela, de papel. Tudo muito simples e pobre. A cidade tinha no máximo dois mil habitantes.

Meu avô abria a Bíblia, quinze minutos antes da meia-noite. Lia um Evangelho sobre o nascimento de Jesus, um Salmo, um Padre nosso, e depois seguíamos, o sino tocando à meia-noite, para a igreja. A Missa do Galo.

Meu avô passou o costume de reunir a família e ler a Bíblia a meu pai e, quando este morreu, a mim coube continuar a tradição. No Palácio do Planalto, presidente, lia o Evangelho nos Natais e dizia a todos que era uma tradição de família.

Depois vim a saber de outros natais. A saber a origem do Natal. Que a data de 25 de dezembro foi fixada pelo papa Júlio I (São Júlio I). Em outras igrejas celebra-se em janeiro ou abril. Que no século VI os padres foram autorizados a rezar, nesse dia, três missas. Ficavam em jejum o dia inteiro.

O Papai Noel de hoje, o esbelto Bispo Nicolau, santificado, foi criado pelo cartunista americano Thomas Nost, o Santa Claus, e com sua barba e barriga invadiu a mídia e entrou no coração das crianças. Lembro-me de um tambor de lata que Papai Noel me trouxe aos cinco anos. Era feito pelo funileiro de Pinheiro! Nada mais belo e nada me fez tão alegre. A ideia de presentes refletindo a doação e a generosidade não pode perder o sentido cristão desta festa da família, representando a união do homem com Deus.

Mas leio os jornais todos os dias. É difícil misturar Natal, violência, guerras. É triste constatar que o homem ainda não mudou e que muitos natais devem vir até que o homem faça aquela revolução interior da correção, exorcizando a violência e logrando aquilo que o padre Vieira pregava no “Sermão do Mandato”: “colocar em Cristo o coração dos homens, e nos homens o coração de Cristo”.

Mas no Brasil tem céu azul. E nada ofuscará a nossa fé nesse momento em que recebemos O filho de Deus, que veio ao mundo para ensinar que o homem deve mudar segundo um processo interior de leis morais e de condutas baseadas nas virtudes, e não no medo.

Paz, paz na Terra e dentro de nós mesmos.


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