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COLUNA
Prof Michael Amorim
Michael Amorim é professor de filosofia, conferencista, podcaster pai e marido.
Prof Michael Amorim

Sola Scriptura e Confusão

Sola Scriptura é o princípio da confusão certa e irremediável.

Prof Michael Amorim

Quando eu era apenas um jovem gafanhoto protestante de 17 anos, caí na besteira de ler o livro de Apocalipse da Sagrada Escritura – santa ignorância. Terminei a leitura assustado, confuso e vendo evidências do fim do mundo embaixo da cama. Habitava em mim a típica interpretação protestante de que o livro bíblico trata somente de coisas futuras, mais precisamente do final dos tempos.

Angustiado com a possibilidade de ver gafanhotos com cabeças de mulher caminhando sobre a terra, busquei, nas coisas do meu pai, algumas fitas com gravações de testemunhos de pessoas que teriam ido ao inferno e voltado para contar a história (meu pai tinha uma gaveta cheinha dessas doideras). 

Os relatos eram absurdos, do nível do "alô, diabo" escondido na logo da Coca-cola, mas não deixavam de ser assustadores, com direito a trilhas e efeitos sonoros de gritos e risadas macabras.

Lembro de um trecho em específico onde a pregadora descreve uma reunião no inferno, com Lúcifer sentado à dianteira de uma grande mesa rodeado por entidades do Candomblé (risos). 

As entidades estavam compartilhando como suas invenções infernais levavam almas para o inferno, sobretudo a mais diabólica delas: a televisão (nisso eu tenho que concordar com o Tranca-rua, que era quem estava com a palavra no momento). Busquei respostas nesses "testemunhos diretos" de gente "inspirada pelo Espírito Santo" e fiquei com a cabeça mais bagunçada ainda. 

Pouco tempo depois dessa sessão de terror, ouvi que existia uma Bíblia de estudos com comentários precisos sobre as tenebrosas visões do apóstolo. Comprei. Tratava-se da Bíblia Dake, editada pela CPAD e Editora Atos (que parece-me ter sido retirada de circulação pelo número absurdo de erros contrários à própria doutrina protestante mais ortodoxa). Abri direto na primeira página do Apocalipse e fui lendo o texto seguido dos comentários. 

Com a tal Bíblia de estudos aprendi, entre outras coisas, que o Céu trata-se de um Planeta situado ao norte do universo, que Adão foi um super-homem, capaz de voar e respirar no espaço; que o pecado é causado por genes patogênicos que são como agentes materiais de Satanás no corpo humano (mais ou menos como o George Lucas explica a Força nos filmes I, II e III da franquia Star Wars) e que Jesus só recebeu o status de Salvador aos 30 anos de idade. Que belezinha de estudo bíblico, hein?

Fiquei com essas caraminholas na cabeça até conhecer outros comentadores protestantes mais sérios e ler duras críticas à Bíblia Dake, que tem quase todos os seus comentários baseados nas loucuras de gente como Benny Hinn (o cara da unção do Paletó, aquele que recebe poderes místicos dos ossos de sua esposa falecida). 

Onde quero chegar narrando esses fatos é que, somente agora, como católico apostólico romano, tenho não só compreensão clara dos textos bíblicos, como profunda segurança doutrinária, pois não posso criar uma interpretação diferente da que a Igreja ensina e nem seguir as milhares de interpretações opostas à do Santo Magistério. Somente agora, estudando o catecismo e a literatura católica, os textos bíblicos, outrora obscuros, começam a fazer sentido. 

Aprendi com o livro O Banquete do Cordeiro, do Scott Hahn, por exemplo, que longe de tratar-se apenas de demônios caminhando sobre a terra no fim do mundo, o último livro das Escrituras trata da queda da Roma Pagã (a Grande Prostituta que se embebedava com o sangue dos mártires) e do estabelecimento da santa Liturgia. Sim, jovem, o livro do Apocalipse é a chave interpretativa da Santa Missa. 

É incrível como toda a Liturgia da Missa foi predita por São João na ilha de Patmos. E isso é coisa que protestante algum jamais vai compreender, uma vez que rejeitam solenemente a Santa Missa. 

Enfim, se negarmos o valor indispensável da Igreja Católica e de sua Sagrada Tradição, negaremos a autenticidade da própria Bíblia, pois foi a própria Igreja Católica que compilou e escolheu os textos sacros que compõem a Bíblia. Já paraste para pensar nisso? Além do mais, negando-se o valor do Magistério da Igreja e da Tradição apostólica e ficando apenas com a Escritura, cai-se no areal movediço da interpretação pessoal e relativista da Escritura. Foi o que aconteceu e o que se constata historicamente no Protestantismo e suas milhares de vertentes. Cada uma, julgando estar amparada pela Bíblia, cria uma vertente própria do cristianismo.

Enfim, depois de tanta bagunça interpretativa, posso dizer, um tanto aliviado, com Sto Agostinho: “Creio na Bíblia por que a Igreja Católica me manda crer.”

Sola Scriptura é o princípio da confusão certa e irremediável. Graças ao Bom Deus, no final de 2017, livrei-me disso e pude refugiar-me na segurança inabalável do Magistério Infalível.

Paço do Lumiar, festa de Nossa Senhora Rainha.



 

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