2025!
Quando tem início um novo ano, gosto sempre de resgatar o que fiz no ano anterior e começo a pensar sobre o que mais posso, devo e consigo fazer naquele que se apresenta. Nessa reflexão de final de ano e início de outro, sempre separo quais são meus inter
Quando tem início um novo ano, gosto sempre de resgatar o que fiz no ano anterior e começo a pensar sobre o que mais posso, devo e consigo fazer naquele que se apresenta. Nessa reflexão de final de ano e início de outro, sempre separo quais são meus interesses e quais são os meus propósitos.
Para alguns, talvez, essas palavras sejam sinônimas, mas, para mim são coisas bem diferentes. Ambos são legítimos, enquanto expectativas humanas, mas diferem em termos de importância. Explico.
Os interesses têm a ver com as necessidades mais imediatas dos seres humanos. Nesse contexto, se quero fazer uma viagem, alcançar uma promoção no trabalho, comprar um carro ou uma casa nova etc., isso tudo são interesses, porque imediatos e se esgotam com a sua concretização no tempo fixado.
Se, no entanto, almejo alcançar propósitos o tempo não será algo determinante, porquanto sua concretização não pode ser contada em meses ou em poucos anos, mas sim, na maioria das vezes, em décadas, séculos ou milênios. Veja o caso do racismo: com a abolição da escravatura a coisa começa a melhorar, mas estamos longe de eliminar a conduta racista, que divide a sociedade pela cor da pele. Veja, ainda, o papel da mulher em sociedade, que, no início do século XX, não tinha o direito de votar e ser votada, mas que hoje, infelizmente, em muitos países do Oriente Médio, além de não poder votar, não pode exercer qualquer ato da vida civil, inclusive dirigir veículos, trabalhar fora de casa ou exercer função pública.
Com efeito, sem desmerecer os interesses – matéria-prima da vida com conforto –, creio que os propósitos são mais importantes, por darem sentido a toda uma vida.
Recentemente, assisti a um filme, em um canal de streaming, chamado “Viver”, que reforçou no meu espírito essa importância.
O filme “Viver”, baseado na novela “A morte de Ivan Ilitch”, de Tolstói, é uma releitura para os dias atuais e tem como protagonista o ator inglês Bill Nighy, em interpretação magistral. Ele conta a história de Rodney Williams, um veterano funcionário público que leva uma vida monótona e sem propósito, imerso na burocracia do serviço público. Um dia, ele recebe o diagnóstico de uma doença terminal e decide buscar um significado para os seus últimos dias. O certo é que, inspirado por uma colega de trabalho, ele começa a lutar pela transformação de uma área degradada da cidade em um parque infantil, deixando esse legado à comunidade.
Hoje, todos nós conhecemos alguém ou parente de alguém que luta contra a depressão, doença séria que, se não tratada, pode resultar em tragédia. Sei que, como já registrei, isso é uma doença, mas me pergunto se “ter um propósito” – uma coisa maior que a vida cotidiana – não poderia ajudar nesse tratamento. Será que algumas vezes essa doença não se instala justamente pela ausência de um propósito definido, tendo a monotonia esmagado os sonhos?
Evidentemente, por não ser da área médica e, portanto, não entender das doenças com maior propriedade, as perguntas que faço não passam de conjecturas. Entretanto, teimo em refletir levando em conta esse aspecto, porque gosto de pensar e contribuir para o debate.
Afinal, a vida é a essência e a razão de tudo, uma experiência única, independente de você acreditar que ela é um presente concedido por Deus – ou seja, acreditar no criacionismo, como eu acredito – ou deva ser justificada a partir das várias teorias científicas.
Sendo a vida, pois, a razão de tudo existir, penso que deve ser bem vivida, mesmo sabendo que não será sempre um mar de rosas. E bem viver, para mim, é ter propósitos, porque são duradouros e o tempero da vida.
Por tudo isso, como a cada dia temos mais passado do que futuro, vivamos como nos ensinou Mário Quintana, no poema “O valioso tempo dos maduros”, em que ele diz não ter tempo para lidar com mediocridades, para discutir assuntos inúteis, para lidar com pessoas imaturas, para debates sem conteúdo, e conclui:
“(…) quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge da mortalidade...
Só há que caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a minha vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial.”
Na minha interpretação, o que Quintana conclui é que o essencial é ter propósito, porque pessoas de verdade não vivem em função de interesses e tampouco se preocupam com coisas de menor importância.
Viva 2025! E que possamos realizar, se não todos, ao menos parte dos nossos propósitos, e que os interesses se realizem como consequência natural de muito trabalho.
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