As tarifas de Trump e o Maranhão
Como nossa economia vai passar por isso?
O presidente Donald Trump, como todo mundo já sabe, anunciou sobretaxas às exportações do Brasil aos EUA, majoradas de 10% (anunciado no começo do ano) para 50% e para tanto, alegou que eles “são deficitários no comércio exterior conosco”, o que não é verdade. O Brasil é um dos poucos países que compram mais de lá que enviam daqui (gráfico acima).
O Maranhão é um forte exportador líquido, temos peso na balança comercial em alumina, soja, celulose, ouro e minério de ferro. No primeiro semestre de 2025, nossos maiores parceiros foram: EUA (969 milhões US$) China (631 milhões), Canadá (573milhões), e Rússia (379 milhões).
Se as sobretaxas de 50% forem de fato implementadas, isso poderá ocasionar a redução do fluxo comercial do MA, com consequente redução da atividade econômica e do nível de empregos. Nesse rol, há algumas grandes empresas produtoras e exportadoras que criam milhares de empregos aqui, como: Alumar, a Suzano, Vale, Equinos Gold e o enorme complexo da soja/milho, com centenas de players e atividades agregadas como insumos, transporte, assistência técnica, etc.
Para piorar a confusão criada por Mr.Trump, na carta enviada ao Brasil fala de perseguição a um ex-presidente e de ativismo judicial do STF, sem entrar no mérito da questão, não cabe mesmo ao capitão da maior economia do mundo, misturar uma mentira (déficit na balança comercial), com decisões judiciais de um país soberano, com perseguição a um político. Nesse cozidão que ele criou, dá-se munição para a polarização política brasileira, que virou um “Fla-Flu” sem que nenhum dos lados radicais baixe as armas. Nossos enormes problemas só pertencem ao Brasil, que, infelizmente, cada dia piora um pouquinho a intromissão do legislativo contra o executivo e arbitrado pelo judiciário. Nesse caldo todo mundo grita e poucos tem razão.
Voltando a economia do Maranhão. Outro fator que merece atenção é o recente discurso do secretário geral da OTAN, Mark Rutte, informando que o Brasil pode ser penalizado com sobretaxas da União Europeia em até 100%, por ser um dos maiores compradores de combustíveis da Rússia, que assim financia a invasão a Ucrânia. Como o Estado do Maranhão tem parcela elevada o seu ICMS formado pela importação desses derivados pelo porto do Itaqui, e se confirmar a retaliação, haveria forte redução desse que é a maior receita própria do estado, cerca de 25%. Evidentemente o Brasil não ficará sem diesel (importa mais da metade do consumo), mas a eventual mudança de fornecedor pode ocasionar atrasos na cadeia e no fornecimento do combustível mais usado nos transportes de carga, com reflexos na arrecadação de ICMS.
Há uma máxima que, não se briga com o cliente. Por outro lado, Mr Trump é imprevisível e ilógico. Exigir que um país soberano anule decisões judiciais não é cabível. Além disso, países com economias maiores não tiveram sucesso em negociar com as sobretaxas dos EUA. Mesmo México e União Europeia tiveram pouco sucesso. A via diplomática é a única opção, ameaçar um presidente como Trump pode piorar as coisas.
Consideremos, também, que nosso presidente nunca procurou o americano e sempre fez discursos críticos e inflamados contra o “laranja”. A melhor coisa nesse momento é a paixão e a ideologia saírem do ringue e diplomatas profissionais e políticos mais sensatos assumirem a função de negociar.
O fato é que, onde há brigas e ameaças, o comércio não roda bem. O objetivo de Mr. Trump é restabelecer uma economia fabril, como os EUA tinha nos anos 50 a 80, de oligopólio mundial. Mas o mundo mudou e as empresas mais ricas do mundo hoje não são mais de automóveis e petróleo como no passado, mas de tecnologia e bens de consumo. Mesmo a premissa que os EUA perderam importância econômica, não encontra eco na realidade. O economista Marcos Troyjo trouxe um dado interessante, em 2008 das 10 maiores empresas do mundo 5 eram americanas, 4 europeias e uma japonesa. Em 2024, nesse mesmo ranking, 9 eram americanas e a única de fora é a Saudi Aramco, maior do mundo em petróleo, pertencente ao reino saudita.
Logo, o movimento de taxação global que Trump empreende, além de bagunçar a economia mundial, não vai industrializar os EUA como no passado, porque a economia ficou mais tecnológica e menos fabril. Quando as tarifas elevadas de importação começarem a aumentar os preços no Walmart e no Costco, o povo americano irá reclamar e ele terá um encontro com a realidade.
O Maranhão, para fechar, que é um importante exportador para os EUA, poderá atingido se confirmar as sobretaxas, além da ameaça da União Europeia (via OTAN) em relação as importações de diesel. Esperemos que o bom senso, a diplomacia e os interesses econômicos prevaleçam e essa ameaça se dissipe.
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